Três poemas de Pedro Blanco
Pedro Blanco. falhador de poesia. pescador de peixe fora d’água. usuário de Rita Lee. fundador e único membro do movimento barroso: vocês podem considerar que tudo o que ele diz é meio Manoel de Barros, ou que é tudo uma completa merda mesmo.
***
um padre avoado
sustentado por uma pá de balão
foi do céu ao chão
e no meio do boneco do fofão tinha uma faca
tinha uma faca no meio do boneco do fofão
no meio do boneco do fofão HAVIA uma faca
– que é o mais correto e muito menos poético –
traficantes evangélicos
evangélicos traficantes
na sintaxe, dúvidas?
nenhuma
a ordem dos fautores não altera o subproduto
aluga-se és a gula
tudo é tão confuso, por exemplo:
os livros matam as árvores ou as homenageiam?
se as cobras agora estão usando gravatas
elas estão penduradas no pescoço ou no rabo?
ou o que push tem a ver com empurrar?
deus que me perdoe, mas nietzsche está morto
e além mais, prefiro as filosofias de buteco
deus que me dispense
mas prefiro os desimportantes
eu caibo em quem não tem cabimento
eu caio em quem não cabe em si
eu adoro quem se acaba sem medo
sabe o que eu acho?
causas perdidas
aqueles gato pingado
os cães com manteiga na chapa sujando a sala de star
mas sem guerra
me dá uma trégua
eu só prefiro as pedras
do que o brilho das estrelas
entendo por galáxia os olhos de meus amigos
enfim, desculpem o transtorno
mas ando meio transformado…
– e afinal, quem foi que disse que não pode se alimentar de
nuvens?
*
des…
desfoucault da questão des…
desfoucault da questão des…
desfocault da questão
seus juramentos de hipócrates!
des…
desfoucault da questão
é tanto adorno
des… des…
desfoucault da questão
tudo tão confúcio
des…
desfoucault da questão que freud estraga…
desfocault da questã – não freud!
desfoucault da questão
but i kant!
des… des…
descartes!
des …
desfoucault da questão… des… seus juramentos de hypocrates!
desfoucault da questão que
é tanto adorno
tudo tão confúcio
que nada fica nietzschedo
a vida mais parece o gato de schrödinger amarrado num pão com requeijão
*
te quiero, cariño y porrada
com o peito meio cheio de gatinho
da madrugada
com o peito cheio de asma mesmo
de peito raso que seja
pois
te quiero engravidando meu coração vazio
pra você fazer um estacionamento
pra tudo aquilo que já te montou um sorriso pousar
porque a parte que te cabe nesse latifúndio é tudo
então, por favor, chega me
invadindo sem bater, meu mstzinho lindo
pra fazer uma ocupação
um baile funk
ou se quiser fazer um estrago
faça
meu amor, você pode fazer o impossível
porque sem você o que existe é tudo
mas tudo não tem
você
e seu joelho
e a marquinha da sua vacina
cada falange e clavícula
cada s e ç trocado
cada cálculo errado
cada dose a mais do trago
as bitucas do seu cigarro jogadas
na grama que você nuvem e eu beijo
no céu que você pisa e eu beijo
tentando alcançar a pele rosa e gostosa
da curva angelical do seu arco bailarínico
é que eu te amo antes de saber, sabe?
você me dá borboletas na alma
se faz um véu de breu
uma invasão de vaga-lumes infesta a vista
ah, não, são seus olhos
e isso é um clichê
e eu o bobo da casa engraçada e não valho nada, eu sei
ainda mais sem você, porra!
dulcineia do caralho tatuada na parte interna das minhas pálpebras!
se tu vens, por exemplo, às três da tarde, desde a madrugada fico aceso
porque minha crise de ansiedade é das piores
te espero feito fogo de artifício na beirada do ano novo
te quiero assim, cariño
apagando meu fogo com gasolina
(y así te amo porque no sé amar hecho neruda)