Três poemas de Rita Queiroz
Rita Queiroz. Nascida na Bahia de todos os Santos, na terra de Nosso Senhor de Bonfim, com o Sol em Leão, aos 22 dias do mês de agosto. Tímida na infância e na adolescência, vem desde sempre ressignificando sua vida através da palavra. Graduada em Letras, misturou o verbo e os textos manuscritos no mestrado e no doutorado, movendo-se apaixonadamente por tantas histórias de épocas pretéritas que ainda hoje se repetem. Vida e verbo visceralmente tingem o/s papel/is desta leonina, amante do verso que a faz inteira. Assim, as dores se fizeram palavras e as cicatrizes, risos. Construindo, reconstruindo e se deslocando em espaços possíveis e imaginários, espera sempre tocar outras almas com sua poesia e sua docência.
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CÉU SEM NUVENS
Vida por um fio…
Na guilhotina dos dias,
O destino rompe com o cotidiano.
Pedaços de eternidade se perdem pelo caminho,
Deixando as lembranças empoeiradas
À beira da estrada.
Baila-se a última valsa
Na incompletude da fotografia
Que dita a felicidade.
Ficaram os sonhos
E as gaivotas que sorriem
Para a outra face do abismo.
*
FRAGMENTOS DE NAZCA
Olhos de maré…
Ora vazante, ora cheia
Ora corredeiras de saudades
Ora transbordamentos de silêncios.
Olhos cegos no espelho do tempo
A libertarem fantasmas inquietos
Reinventados nos subterrâneos proféticos
Dos outros eus em desvairio.
Olhos em procissão…
Insurretos e mudos
Escritas sem destino
Sinos a anunciarem epifanias
Do verbo (im)perfeito.
*
CAMPOS ABERTOS
Não cabe em mim o amor
Perdido no ansiar das bocas
Que sangram promessas.
Não cabe em mim a saudade
Escavada do espelho turvo
Riscado do mapa.
Não cabe em mim a sina
De um destino limitado
Que se esbarra nas curvas do silêncio.
Não cabem em mim os poemas
Escritos na calada da noite
Em que me reinvento.