Três poemas de Shelly Bhoil
Shelly Bhoil é uma escritora indiana, residente em São Paulo, Brasil. Seus próximos livros incluem a edição de dois volumes sobre o Tibete com a Lexington Books nos Estados Unidos. A autora também está trabalhando na tradução de poesia e prosa tibetana para o português brasileiro e na sua segunda coletânea de poesia. Em 2016, ela recebeu uma menção honrosa no All India Poetry Competition e o terceiro prêmio no Rabindranath Tagore International Poetry; em 2011, foi ganhadora do primeiro prêmio no concurso internacional de escrita Tahoe Safe Alliance, assim como uma menção honrosa no concurso FLEFF Checkpoint Story 2011 na Universidade de Ithaca, EUA. Os poemas publicados abaixo são acompanhados da tradução para o português, realizada por Camila Assad Quintanilha.
Camila Assad Quintanilha nasceu em 1988 em Presidente Prudente/SP. Escreve, traduz, desenha e pinta. É autora do livro de poemas Cumulonimbus (Quintal Edições, 2017) e de Desterro, projeto contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo/2018, a ser lançado no próximo ano.
***
I dream of a poem
I dream of a poem
about words
without words
like a primitive thought
unborn
in the awareness
of language
then grammar
but a deciduous patois
at every step
on every tongue
dangling out
of aporia
once you step on
your God
your primitive thought
of the Universe—
a mega-poem
by the Creator
that fathoms deeper
than depth of a poet’s dreams
spread across the lengthy skies
beyond the bedlam breath
of our recurrent lives
I dream of a poem
about words
without words
Eu sonho com um poema
Eu sonho com um poema
sobre palavras
sem palavras
como um pensamento primitivo
não nascido
na consciência
da linguagem
logo gramática
porém um efêmero patoá
a cada passo
em cada língua
pendendo para fora
da aporia
uma vez que você pisa
seu Deus
seu pensamento primitivo
do Universo-
um mega-poema
pelo Criador
que penetra mais profundo
do que a profundidade dos sonhos de um poeta
espalhados pelos longos céus
além da respiração tumultuada
de nossas vidas recorrentes
Eu sonho com um poema
sobre palavras
sem palavras.
*
Nude poem (2)
This poem right here
reminds me of another poem
lost in remembering nothing
about itself or the intervention
the scratches here and there
uncared into scars
recur in amnesic dreams
like the unfinished lines
neither erased nor delivered
squeeze and writhe about
in the manner of rain-washed
earthworms peppered
in semi-abandoned diaries
this poem here is
about that poem somewhere:
a nude poem perhaps that was
one without words for ornaments
one with feelings alone for flesh
a nude poem of yours
a nude one mine!
Poema Nu (2)
Este poema que está aqui
me lembra de outro poema
perdido na lembrança nada
sobre ele mesmo ou a intervenção
os arranhões aqui e ali
descuidados tornando-se cicatrizes
ocorrem em sonhos amnésicos
como as linhas inacabadas
nem apagadas ou enviadas
comprimidas e contorcidas na
forma de minhocas salpicadas
lavadas pela chuva
em diários semi abandonados
este poema aqui é
sobre aquele poema em algum lugar:
um poema nu que talvez fosse
um sem palavras para ornamentações
um com sentimentos isolados da matéria
um poema nu seu
um nu meu!
*
Preposition of understanding
Because your the
looks an a to me
and vice-versa
so let us never mind
the possible preposition
of understanding
between us
that alone is
the bridge
pre-positioned
from the kernel
of our birth
to the eternity
of our being
from keeping
the two sides merging
and from drying
the river of meanings
between a and the—
the two indispensable
for either to exist
Preposição de entendimento
Porque seu the
se parece com a para mim
e vice-versa
então não nos importemos
com a possível preposição
de entendimento
entre nós
que sozinha é
a ponte
pré-posicionada
desde o núcleo
do seu nascimento
até a eternidade
do nosso ser
mantendo
os dois lados fundindo
e secando
o rio de significados
entre a e the—
e ambos indispensáveis
para que possam existir