Três poemas de Thaíse Santana
Thaíse Santana nasceu em 1989. É natural de Itabuna, Bahia. Autora de Mulher-Palavra, Editora Patuá (2021). Participa de antologias literárias nacionais e internacionais. Destaca Cadernos Negros: poemas afro-brasileiros n. 43, Ed. Quilombhoje (2020). Tem artigos publicados em revistas científicas e um conto, na Revista Acrobata (2021) e na Revista Gueto (2021). Licenciada em Letras (UESC). Mestra em Letras (UFV) e Doutoranda em literaturas (UFF). É semeadora de literatura no instagram @literaturademulhernegra. Usa o perfil pessoal @thaisesantanasou, onde
compartilha fragmentos de sua vida-escrita.
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Saudade grapiúna
Para Ton, meu irmão eterno
A felicidade corria
pelas roças de cacau
como era doce o fruto verde
saboreado em boca preta
pequena
o tempo correu depressa e
levou tudo embora
sobrou o cacau maduro
a amargar minha saudade.
*
Selva grapiúna
Contra o genocídio do povo negro
A cidade que me pariu
e me viu crescer
não espera adolescer
menino preto da periferia
coitado de Zezinho
sem onde cair morto
caiu num esgoto
no Buraco da Gia
a mãe do menino
chorou sozinha
todo mundo viu o corpo preto
e frio
exposto igual mercadoria
vida de preto corre perigo
na selva grapiúna muitos são chamados
todos escolhidos.
*
Meu corpo
Meu corpo é verbo
fingimento
meu corpo é negro
movimento
meu corpo todo
enfrentamento.