Três poemas de Wender M. L. Souza
Wender M. L. Souza atua como redator publicitário, porém tem como formação a área de Letras, na qual carrega o título de mestre em Estudos Literários pela UFMT. É revisor dos livros Obscuro-shi: Contos e desencontros em qualquer cidade (2016, Carlini & Caniato) e Subterfúgios Urbanos (2013, Editora Multifoco), de Wuldson Marcelo; Scarlet e o branco (2012, Editora Multifoco), de Eliete Borges Lopes; Me LiterAtura (2016, Carlini & Caniato), de Rafaella Elika Borges; e da coletânea de contos e poesias Beatniks, Malditos e Marginais em Cuiabá: Literatura na Cidade Verde (2013, Editora Multifoco).
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nas manhãs, tardes e noites de Cuiabá
Nas manhãs, tardes e noites de Cuiabá,
há um calor que incomoda e anima a todos,
e um quê de urbano e rural,
que está no ritmo dos cantos dos pássaros e das cigarras,
e nas sirenes, buzinas, lambadão e rasqueado,
ouvidos em alto volume.
Nas mangueiras e cajueiros
que ensombram os mais velhos
e saboreiam as crianças,
e nos arranha-céus envidraçados
que tomam conta das avenidas,
embelezando e ferindo os olhos de quem vê.
Em Cuiabá, sabe-se que um dia
fará sol e no outro também,
com, às vezes, pancadas de chuva,
que levarão telhados
e alagarão ruas.
Tudo que há de bom no mundo,
há em Cuiabá,
assim como seu oposto.
Em seu ritmo semiveloz/semilento,
de cidade que cria tentáculos de modernidade,
as pessoas andam ainda com um ar provinciano
de deixar o corpo arrastar-se ou derreter-se.
Em Cuiabá, cabe tudo, como em qualquer lugar,
falta tudo ou há de tudo,
como em qualquer lugar.
Das peculiaridades ao genérico,
em si cabe tudo,
das ruas e bairros com quase status de glamour
às periferias e moradores de ruas que se multiplicam.
Não sei se existe amor em Cuiabá,
só sei que existe uma febril vontade
de fugir do seu calor,
e reclamar do frio quando vem.
*
os seus passos encantam a mim e a ele
Os seus passos encantam a mim e a ele,
passos de um animal predador,
que dança ao som da batida do coração
da sua presa.
o seu olhar perscruta o espaço,
e entre mim, o marido,
e ele, o amante, se divide.
sua alma se balança entre os dois,
como a folha de uma árvore em um bosque
de Quenko,
um dia, uma hora, um instante,
é minha, mas em um piscar de olhos
é dele.
a cidade canta e versa nossos pesares
e gemidos,
observando, como se a uma tragédia esperasse.
o ar rarefeito de Cusco nos prende
a respiração
e olhar para trás ou para baixo
nos dá vertigem
e inebria nossos olhos,
já tão embaçados pela paixão.
a fuga passeia por nossas mentes,
porém, partir seria matar a um de nós.
seguimos os passos dela,
pois a ela coube o início,
a ela caberá o final.
*
caro leitor
caro leitor,
rindo das besteiras
que escrevo?!
até parece
que não fora você quem as me sussurrou.
WalterMuller
Interessante como se disso em os riscos nestes entremeios: ruídos de passos,,marido /amante/estes outros indefinidos…..cidade modeRNA/provincia/calor/frío,e este incÔmodo que clama entre as definições!