Três poemas e dois vídeo-poemas de Frederico Klumb
Frederico Klumb é um poeta, roteirista e artista visual brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, em 1990. Cursou Cinema na PUC-RJ e publicou poemas em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras, a exemplo de Modo de Usar & Co, Escamandro, Garupa, Dusie e Incomunidade.
Integra a Oficina Experimental de Poesia, coletivo artístico-cultural hoje organizado com o apoio físico e financeiro do Centro Cultural Municipal João Nogueira, no Méier.
Em 2016, publicou o volume Almanaque Rebolado (Azougue / Cozinha experimental / Edições Garupa), um guia artístico pedagógico para criação poética, escrito a vinte mãos e fruto de residência no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (CMAHO).
Em 2017 publicou Arena (coleção megamini / 7letras) e exibiu o curta- metragem Agharta em festivais nacionais e internacionais de cinema, a exemplo do Festival Internacional de Curta-metragens de Hamburgo. No segundo semestre, juntamente a Oficina Experimental de Poesia, coordenou residência artística no Polo Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em 2018 lançou máquinas mancas da manhã (Edições Garupa).
Participou de antologias como Golpe: manifesto (Nosotros editorial) e da exposição Rejuvenesça: Poesia Expandida Hoje.
Os três poemas abaixo são inéditos e os dois vídeo-poemas se encontram em sua página no vimeo.
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um roteiro para charles bonnet
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trailer 2 – máquinas mancas da manhã
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os gatos miam se é o que têm de gatos por fazer
as muradas e pneus dos carros, nada disso me incomoda mais.
o capinzal eleva-se longe, até o limite das copas no topo do morro
e não carrega nenhum desafio. estou só com as minhas preocupações noturnas.
não são tão importantes quanto achava ontem que seriam.
a insônia é a fome dos que não têm fome,
melhor a cama quente a um prato frio, eu me digo.
no quarto o ventilador treme como um velho espantando a poeira do corpo
ou o tempo dos cabelos. não me interessa entender o tempo.
algumas pessoas caminham pela orla, sempre atrás de seus passos,
sem saber o que esperar dos outros.
a lua se desenha fina, ímã e pêndulo impossível para os olhos.
tenho muita vontade de conversar com os homens que limpam os peixes.
devo continuar andando por aqui, calço sapatos leves e tenho as costas cansadas.
hoje sonhei com cavalos em grandes galerias, estalando cerâmicas nas curvas,
correndo muito, como se montassem o mundo.
há um pequeno terreiro embaixo, duas crianças jogam cartas em mesas de plástico.
nenhum segredo salta das imagens.
há muitos anos conheci um homem gago. ele nadava quatro mil metros por dia
e era gentil comigo.
fico um pouco triste por não lembrar seu nome. e logo passa.
*
o espaço entre tijolo e concreto a cidade
marca um x na manhã enquanto durmo
você vira e no meio da sala ao lado
era um era outro na cozinha
no espelho era eu alguém caiu
era alguém 11 horas entre os carros
olha gritaram correram
meio-dia alguém no chão
agora está tudo como antes
f., a cadeira, igual, dia de manhã
no espelho um homem, frutas,
j. dentes mercado, carne
viro e vejo j. na cozinha
dois no espelho como tudo foi acontecer assim tão rápido?
no espelho eu no quarto, j. deitada
eu estou no sofá comendo
nós dois alguém grita não há nada na rua
estamos bem, fazemos o que podemos
aqui. desculpe estava tarde
comida fiquei feliz você riu,
acordo sozinho no espelho não sonho.
*
outra charada
uma porta
dentro dela um idiota
quem olha de dentro
e quem olha de fora?