Três poemas e um miniconto de Eduardo Cardoso
Eduardo Cardoso é um jovem autor brasileiro. Nascido em 23/10/1996, graduou-se em Letras/Português – Grego pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2019. Além de autor, também é iniciante no mundo da tradução, trabalhando durante a sua graduação com tradução do livro Plays Well With Others de Allan Gurganus; assim como na relação da mitologia da Antiguidade com a literatura grega e sua recriação no cinema contemporâneo. Para o autor, escrever é ora sonhar acordado, ora pensar, ora exorcizar as loucuras de sua mente.
***
(Zona Norte RJ, próximo a Av. Brasil)
Era uma vizinhança padrão,
suburbana até o talo,
cheia de velhos quadrados
com suas velhas cãs,
e austera pela presença
da fábrica ao lado
pra fazer sutiãs
vendidos em lojas de varejo
pela nação.
O portão da frente,
de latão, cor de petróleo,
com toda sua largura tem
uma fechadura de tanto
ficar agarrada
na sua simples engrenagem,
fica escancarada
pra toda rua ver.
*
(La Dame Blanche)
A mulher de branco:
alimenta,
é atenciosa,
é cuidadosa,
dá carinho,
carrega a velha na cadeira de rodas,
engole o choro,
faz um pão na chapa,
gosta daquilo que é seu,
joga conversa fora,
lava a louça,
navega pelo azulejo da cozinha,
prepara a cama,
traz o remédio pra tomar,
vê o filme da Mulher-Maravilha…
O que é de fato
essa mulher de branco
que tenta não empalidecer?
*
(Thessaloniki)
Olho pro imã
que comprei
e lembrei
de você,
de como foi uma aventura
e uma fuga
da minha realidade
e você só estava
de passagem.
Me recordo da sensação
de ser um Elio
para um Oliver,
mas de volta ao real,
em que tudo é tão
socialmente
cinzento,
percebo que não passo
de ser somente
o pai do Elio.
Por que eu tinha comprado
aquele imã?
*
(Achados & Perdidos)
Perdido em Perdizes, você me achou.
E depois me levou ao prédio proibido de Santa Cecília.
Me deixou na tua cama mal iluminada e esporrou champanhe em mim, molhando por inteiro. Me senti na maior riqueza. Num estado de dureza, quis que você gozasse. Então fui na tua boca com a minha, roçando nossas barbas e passei a mão nos teus cabelos. Fiz te sentir nos céus na esperança de me sentir elevado ao me conjugar com você. No entanto, a lua me puxou direto para o chão no final de tudo. Saí de madrugada, tirando da minha eco bag um marca-texto de Afrodite e deixando na mesa de cabeceira, esperando com que ele me encontrasse algum dia.
Dois anos depois e ainda estou te esperando.