Três textos de Joel Carlos
Joel Carlos (1998) vive e trabalha na bahia. é dançarino, ator, produtor, diretor, poeta, dramaturgo e artista visual. trabalha na simbiose do desenho, vídeo e corpo. atuador e co-fundador, desde 2018, da Coletiva de Teatro Insurgente. licenciando em Interdisciplinar em Artes pelo Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas e diretor artístico e artista visual do Atelier Redemunho de Cão.
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haikai / s.título
no som da galopada
meus sonhos crescem
com a revoada
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revoada
um corpo. uma gaivota e todos seus anseios de estar voando em revoada com seus sonhos. experimento de voo de um cavalo pesado para galopar ao som dos relâmpagos dos desejos. das carnes que suam e transpiram abalos.
atravessamento. co-criação. corpo que chama o vento. vento que molda o corpo. calmaria.
atiçamento do que há de mais profundo nestes nebulosos tempos. não se cegar. não se desesperar. mas atento sempre. pra frente além. simbioses transmutantes. reviravoltas abundantes. estamos vivos. terra arrasada. estamos vivos. escancaramento dos delírios. estamos vivos.
desejo é cerne de quem deixa a loucura ser em si.
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desocultar as forças necessárias para viver
o que há de corpo para atravessar esses desertos desastrosos que o homem tornou as grandiosas florestas, as vidas que estão no pó por causa das ganâncias pedem passagem. ressurgem em outras atmosferas, driblam o poder de ver que há nos corpos humanos.
há ventos do norte que tentam mover os moinhos da reviravolta, mas há um estanque. nada entra em ligação. as coisas estão se esvaindo. é preciso não render-se ao mínimo e nem ao máximo. é necessário frisar com a língua a necessidade vital de não abandonar o que move e remove nossas montanhas, abram alas de movimentos e redemunhos.
corpos fogos se mantêm sussurros, nas espreitas, num recuo estratégico, pois há uma terra que conclama desejos fortes para germinar os códigos éticos recriados nesse escombro. é necessário que as aberturas não se fechem para si, pois não se abre caminhos com ego absoluto. joga esse corpo na pedreira e deixa o fogo fazer queimar desastres antropocêntrico e faça abrir os poros para os horizontes coloridos com gansos. búfalos. codornizes. cervos galheiros. aranhas. pulgas. seres marinhos. aves que buscam abaixo dos trópicos um espaço para o ninho, um lugar para parir. desvelar. desocultar as forças necessárias para viver.
há tantos perigo, ao mesmo tempo que há muita coragem, muita gente que conserva a felicidade para guerrear em coro, no ponto de vista da transformação, no ponto de partida da incorporação. o raio. o vento. a espada. o movimento. a flecha. a palha. tudo que segura a onda, que sustenta esta terra brasa, que desenha possibilidades de existências.
o que há, está, agora é respirar. e provocar abalos sísmicos para chamar o redemunho. só a gente junto vai abrir esses mar e fazer esse vale de ossos secos desabrochar em flor.