Um conto de Andreza Pereira
Andreza Pereira nasceu e vive em Cuiabá, nesse sol de impressionar as retinas. É jornalista e tem textos publicados em antologias coletivas. É mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT, onde estudou a relação entre jornalismo e literatura.
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Visita
Aquela menina apareceu de mãos dadas com ele me chamando sussurrado de vó. Sentou perto e passou a mão no colo do meu vestido; falou de como eu estava bonita hoje com essas flores. Meus olhos apertaram o seu rosto pra dentro, mas seu rosto não tinha com eles. Ela fez voltas nos meus cabelos trazendo pra baixo a minha mão, quando ela subiu tremendo desentendida entre nós. Ela disse o seu nome. Disse o seu nome duas vezes. Que ia voltar na semana que vem. E saiu repetindo o nome, vó.
Eles foram andando de mim até ficarem menores e menores e atravessarem a porta. A porta da minha casa é branca, tem um quadrado de vidro em cima, onde aparecem olhos que veem se eu já durmo ou entram pontuais pra me fazer engolir. A porta é branca e deixa as pessoas que a atravessam menores e mais longes.
O quarto não tinha o cheiro balançado que o quintal levava pra dentro da sua casa. O papai me colocou na frente da vovó e ela me olhou como às vezes me olhava. Olhei pro papai e ele mexeu a cabeça pra cima e pra baixo e eu alisei o seu vestido. Deu pra sentir a perna dela macia como uma almofada forrada. Ela espremeu os olhos, eu quis sair, mas subi as mãos até a sua cabeça pra afrouxar eles. A cama da vovó estava sempre arrumada e as coisas atrás da cabeceira, sempre bem retinhas porque era assim que ela arrumava o seu quarto. O papai disse que a vovó precisava descansar quando a mão dela começou a tremer. Me despedi falando o meu nome outra vez.
Com os olhos parados e os ombros caídos na beira da cama, ela ficou me olhando enquanto eu andava. O papai fechou a porta e eu quis ver a vovó pelo vidro, mas não dava, mesmo com as pontas dos pés. No pátio, tinha muitas mulheres de vestidos e com os ombros da vovó. Domingo eu vou trazer um desenho. A vovó sempre gosta dos meus desenhos não importa qual menina venha com as unhas sujas de giz.