Um poema de Marcelo Labes
Marcelo Labes nasceu em Blumenau-SC, em 1984, e hoje reside na capital do estado. É autor de Falações [EdiFurb, 2008], Porque sim não é resposta [Antítese, Hemisfério Sul, 2015], O filho da empregada [Antítese, Hemisfério Sul, 2016], Trapaça [Oito e Meio, 2016], Enclave [Patuá, 2018], O poeta periférico [Edição do autor, 2018] e Paraízo-Paraguay [Caiaponte Edições – no prelo]. Integrou a mostra Poesia Agora (edição carioca), em 2017. Tem poemas publicados em InComunidade, Mallarmagens, Literatura & Fechadura, Livre Opinião – Ideias em Debate, Ruído Manifesto, Enfermaria 6, Revista Lavoura e Revista Vício Velho. Edita a revista eletrônica ‘O poema do poeta’, onde publica originais manuscritos, esboços e rabiscos de poetas e ficcionistas. É editor na Caiaponte Edições.
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mare nostrum
i.
que importam o mar e a linha do horizonte
esse verde-azul essa claridade esse sol na
pele se os poetas os poetas os poetas
os poetas se os poetas eles não largam
o texto | qualquer coisa que se escreva
na areia tem entre onda e outra para se
apagar
ii.
[um transatlântico um navio cargueiro um
voo internacional uma lancha uma ilha
entre onda e outra mora o pressuposto dos salva-vidas
entre onda e outra, afogo poemas]
iii.
não à toa uma ilha satelizada por outras ilhas
satelizadas por corais embarcações meninos
náufragos peixes mortos
maresia se diz do odor triste
das coisas que se decompõem
no sal
maresia tanto quanto a vida.
iv.
primeira tentativa – autoexplicação:
quando floriano peixoto mandou tomar
a ilha mandou fuzilar inimigos mandou
batizar a ilha em sua homenagem
os federalistas degoladores morreram
de tiro qual ironia matar de tiro quem
sangrou centenas no golpe de faca
segunda tentativa – autoexpiação:
aprender a nadar para alcançar
sair da ilha e beber o mar
v.
perdão se as linhas e as cores
(vento nordeste desde anteontem)
perdão se os banhistas os turistas
e os fantasmas de açores não são
contemplados por carlos que posou
de costas – também a estátua –
de costas para o oceano
vi.
as mães não conhecem o mar
mas seus perigos
os pais não conhecem o mar
nem seus sentidos
a ilha não afunda por mais que
se torça por isso
: a vida é vivida com riscos
: o amor entre os homens que
se amam.
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(Fotografia de Lucio Cônsul [detalhe])