Um poema de Roger de Andrade
Roger de Andrade. Natural de MG, em Belo Horizonte foram lapidados seus anos de aprendizado (existencial) e sua educação sentimental. É graduado pela Face/UFMG, mestre pela Unicamp e doutor pela Universidade de Londres (UCL), com pós-doutorado pela Universidade Paris XIII Nord. Atualmente, é professor livre-docente da Unicamp. É autor de um livro de poemas chamado Nenhuma Poesia e do romance Memórias Sentimentais de um Gauche na Vida, ambos inéditos.
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meia quatro (o que é)
sessenta e quatro não
não é sessenta e nove
sessenta e quatro é
uma bruta brochada
não é revolução
é involução
não é inspiração
é conspiração
não é o novo
é o ovo
não é bonito
é benito
não é palavra
é: pá, lavra!
não é Minas serras
é minas guerras
não é travessia ternura
é carestia tortura
não é laughters
é slaughter
não é amor de eros
é horror feroz
não é o fogo de áries
é cárie barbárie
não é macunaíma clube da esquina
é ivermectina cloroquina
não é bardot moreau
marceau gadot
é leni damares
maggie marine ayn (hein?!)
não é carlos joão
muriloaugustoharoldo
é pinochet mengele
le pen videla voldemort
não é pagu cecília
clarice hilda adelia
é trump fleury sombrio obscuro ulstra (que úlcera!)
não é machado andrades
rosa ramos campos
é ebola sars mers (merda!)
zika corona (que zona!)
covid (há quem duvide!)
6 + 4 não é dez
é gol contra revés
não é futebol arte
é um jogo covarde
não é tostão mané
é chutão pontapé
não é lençol chapéu
é na canela o pé
não é el pibe pelé
é pisar na bola, né?!
não é gozada odisseia
é nonada tutaméia
64 é o demo
não é o homem humano.