Um poema e um conto de Adrine Souza
Meu nome é Adrine Souza, tenho 20 anos e desde criança pratico o prazer e o sofrer da escrita (tanto em prosa quanto em poesia). Atualmente, estudo Licenciatura em Letras Vernáculas na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), trabalho e, no resto do tempo, dedico-me a sentir, escrever, desenhar, entender, melhorar, aliviar e encantar o “fardo-benção-mistério” que é a vida.
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SIM, É PARA VOCÊ
Quando tudo está cinza, sem vida, sem sabor
Quando as borboletas no estômago são dor
Quando debaixo da pele sou como tronco oco
Quando tudo é um silêncio ensurdecedor
Quando nada me interessa ou faz sentido
Tudo esta perdido? Não, pelo contrário.
Está tudo achado. Achei minha vontade:
Morrer. Virar pó. Jamais ter sido dada à luz.
Mas o diabo é que na verdade, na verdade…
Essa decisão não é tão simples como parece!
O diabo é que toda vez que me sinto assim
E penso ter encontrado a esperada solução
Chega uma intrusa esperança (não sei como)
Um vigor divino sopra a tal resiliência
E uma pontada forte de desejo de v-i-v-e-r.
É como uma sementinha, despejada no ar
Que cai ao solo e vai crescendo, quieta,
mas tomando seu lugar.
A planta cresce e me fortalece a cada dia mais,
Dá sentido à minha brilhante e intensa existência.
Enfim, vejo, nunca quis morrer.
É preciso lutar contra a ideia maldita.
Porque não há nada mais incrível que viver.
*
ELA
Estava eu em paz (às 8h de uma segunda-feira monótona) esperando que o médico clínico me chamasse, quando de repente avistei uma caneta e meu espírito caótico acordou do seu transe. Não me pergunte, leitor, o papel da caneta neste desastre que vou narrar, isso é o de menos, qualquer objeto poderia ter o mesmo efeito, pois o problema em si não estava em objeto algum; estava em um órgão meu (à essa altura, em todos eles).
No exato momento em que vi a tinta vermelho-sangue dentro da caneta, foi como se os aproximados 7 bilhões de seres humanos da Terra me pisoteassem, esmagassem, triturassem. Mas, para falar a verdade, uma só de tantas pessoas que há por aqui teria a capacidade de me deixar assim. E mais: sem nenhum esforço, porque o sorriso da pessoa amada é a arma mais poderosa que ela pode usar contra (ou a favor) de quem a ama.
Como eu já havia dito, caro leitor, o problema não estava na caneta, nem no batom vermelho, nem no cheiro de lavanda, nem na maneira particular como ela gesticulava… Enfim! O problema estava no meu coração, na minha cabeça, no meu pulmão, e por aí vai. Isso, isso, leitor, chama-me de piegas, porque estarás certo. Porém, lhe asseguro que o sentimento era totalmente real. Era o amor, entupindo as minhas veias, artérias e capilares. É que ela estava no meu sangue, em cada batimento cardíaco – sobretudo nos mais apressados; estava em meus olhos, nas pupilas dilatadas e no brilho delas. Aliás, ela era o próprio brilho que as pupilas refletiam. Ai! E era também toda a adrenalina que me fazia sentir viva.
Voltando ao avistar da caneta, digo-lhes que depois de minutos extensos de uma vasta viagem mental (e percebendo que todos no consultório me observavam) parei de fitar a caneta da recepcionista e me contentei em esperar o médico chamar por mim. Virei para o lado no sofá da sala de espera e pronto! Lá estava ela, dessa vez na gota de água da chuva que escorria lentamente pela vidraça. Então eu suspirei, e sofri, e suspirei, e suspirei e me lembrei. Lembrei-me de que tão fluida quando a água era ela, que escorria entre os meus dedos mais rápido que areia descendo numa ampulheta de cintura larga. Repentinamente, a luz se apaga no consultório. “Melhor assim”, pensei. Pois na escuridão não vejo nada, logo nada me lembrará dela. Contudo, havia um paradoxo: na escuridão, não a encontro em nada, mas chego à conclusão de que ela está em mim.