Uma crônica de Nay Rosário
Baiana. Formada em Técnica em Logística. Nay Rosário é empresária, professora e escritora. Amante de café, vinhos e chocolate amargo. Tem textos publicados em sites voltados para a literatura lésbica e em seu blog. Autora de “Escritos da Noite” e “A Mística” lançados na Amazon. Participou das antologias Isso Também É Preconceito (Editora Causos & Prosas), Correspondências(Darda Editora), O Lado Obscuro da Lei e Criaturas da Noite (Editora PEL), Orixás, Histórias dos Nossos Ancestrais e Toda Forma de Amor – Vol. 2 (Cartola Editora), O Nordeste Em Cores e Líricas e Narrativas LGBTQIA (Coletivo Oxe LGBT+ NE).
Eu sou mais um…
Entre milhões de brasileiros que amanhecem o dia vendo o espetacular nascer do astro rei sem perspectiva das horas seguintes.
Sou só mais um dos que choram e brindam a tristeza em meio a multidões. Embriagando-se de doses diárias de lembranças e dor. Enquanto se perguntam: Por que é mais fácil lembrar do que esquecer?
Eu sou aquele maltrapilho escorado no poste, segurando uma garrafa contendo bebida barata, ouvindo os bregas que tocam a alma e a dilacera em lágrimas.
“Por quê?”
-“Há razões que a própria razão desconhece.”
Eu fui…
Alguém que já sorriu até para o Bem-te-vi quando te vi, vindo a mim. Fui amante, fui amiga, porto (in)seguro e abrigo. Nas noites em que o breu era tão negro que gerava dúvidas sobre a existência e reaparecimento da manhã. Fui chão e ar, fogo que incendiava nossos corpos em brasas de amor e água que mata sede e sacia desejos.
Já fui muita coisa, sabe?! Já fui até a rainha do seu carnaval naquele baile de máscaras veneziano que fomos anos-luz atrás. Lembro-me do teu sorriso alegre. Contagiante.
Eu fui uma péssima escolha, mas um excelente acaso.
Hoje eu sou só mais uma página escrita a (duras) penas. Manchada em borrões e lágrimas em certas partes alterando sua compreensão. Eu sou pedra que joalheiro recusa porque seu valor não custeia nem as intenções mais simples de quem por estas linhas passeia.
Sou só mais um entre tantos “ums”.