Cinco poemas de Cláudia Graziano Paes de Barros
Cláudia Graziano Paes de Barros por ela mesma: “Intrigada com a vida, professora por amor, pesquisadora por ofício. Apaixonada pelas Letras, Música e borboletas desde sempre. Seus melhores amigos já foram Veríssimo, Pessoa e Dostoievski. Tem certeza sobre quase nada, pois aprendeu que a vida transmuta-se num instante. Eterna criança, acredita no riso vencendo a doença. E que gatos, cães e passarinhos sabem mais do que os humanos…”.
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7 de outubro
Naquela noite
O manto escuro se declinou mais uma vez
Sobre a grande terra
Naquela noite
Nossos jardins perderam as flores,
as cores e novas dores visitaram
aqueles que conheciam a face do passado
Naquela noite, o silêncio se derramou na escuridão
Nem gritos, nem choros se ouviram
A voz do abismo silenciou a boca
A garganta seca calou a voz
E aqueles que conheciam a face do passado
Estarrecidos trancaram-se nos quartos
Seus corpos, seus passos, seus sonhos e pensamentos
Congelaram-se
Por que o passado se fez presente
E no caminho com Eduardo Alves da Costa
Procuro o ombro de Maiakoviski
Antes de me roubarem mais do que as flores do Jardim
Matarem o meu cão
Calarem a minha voz
E arrancarem mais que a pena dos meus dedos…
*
E a dor que eu sinto se transforma em
estrelas
olha o encanto
o céu brilha mais
e dele caem
em forma de gotas
estrelas
no teu rosto
*
E a minha alma de poeta
se inquieta
Alguns silêncios gritam alto
Outros, calam todo o mundo…
*
O bater das asas lentinho
quantos vazios
cabem no ninho
do passarinho?
*
despátria
Sangue negro
Criança
Menina
Sangue
Coração negro
A mulher que não foi
Sangue escorre
Bailarina sem sapatilhas
Sangue seca
Cientista sem escola
Sangue entranhado nas ruas
Abraço sem retorno
E tudo à minha volta gira
E dói
independência que não há
revoluções que não resultam
escravidão que não se finda