Cinco poemas de Diná Vicente
Diná Vicente é filha de agricultores, Olindino Vicente e Benayr da Rocha, natural de Rondonópolis-MT, mas reside em Cuiabá desde os 14 anos. Sempre teve inclinação para as artes, mas trilhou outros caminhos. Formou-se em Geografia (UFMT, 1997), pós graduou-se em educação (UFMT, 2000). Voltou aos bancos da faculdade com a filha Carolina Nogueira e juntas conquistaram a Carteira da Ordem dos Advogados (2010). Professora, mãe, advogada, esposa e criadora, nunca deixou de escrever suas impressões. Poeta, tem vários poemas escritos (ainda não publicados). Compositora (com algumas músicas registradas na Biblioteca Nacional). Admiradora e estudante de piano. Segue escrevendo…
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GATO PARDO
Meu gato que é pardo
Mia desconfiado
Degusta cada bocado
E ronrona ao meu lado
Às vezes encolhe a cauda
Outras, empina o dorso
Mostra as unhas afiadas
E lambe meu pescoço.
*
MEU NOME É RESISTÊNCIA
Teu maldito preconceito
Não tem poder pra me calar.
Não vês que jaz desbotada
Essa forma de pensar?
Experimenta ficar aqui
Desse lado de cá.
Verás que a indiferença
Logo teu leito cobrirá!
Meu grito no tempo ecoa
E o som é bem potente.
No Universo todo ressoa
Pra despertar tua mente.
Meu suporte é poderoso
Tem a força dos ancestrais.
O peito grita fragoroso
Diante de tantos ais.
O preconceito não tem clemência!
Arranque-o pela raiz!
Meu nome é Resistência!
Liberdade para o meu país!
*
TODA MULHER PRECISA
Toda mulher precisa
De um segredo pra guardar
Um segredo pra contar
Um segredo para viver
Toda mulher precisa
De um colo pra sonhar
Um dormir um acordar
Um desejo um despertar
Toda mulher precisa
De um encanto pra viver
Um sorriso pra deixar
E liberdade para ser
Toda mulher precisa
Acreditar no amor
Na força que pulsa
Dentro do coração
Toda mulher precisa
Acreditar no dom da vida
E poder viver
Reconhecendo seu poder.
*
VAI BROTAR POESIA
Vai brotar poesia:
Da fenda minada,
Do beco gelado,
Da fala afiada,
Do peito abafado,
Da noite nublada,
Do dia ensolarado
Da palavra falada,
Do verbo talhado,
Da boca molhada,
Do corpo suado,
Da mulher amada,
Do homem adorado,
Da flor desabrochada,
Do cravo perfumado,
Da vida saturada,
Do abismo camuflado,
Da erva esbranquiçada,
Do carvão defumado,
Da lua prateada,
Do sol dourado,
Da minha risada,
Do teu legado.
*
VENTOS UIVANTES
Ventos ecoam distantes
Incomodando meu silêncio
Curva forte no horizonte
Intrigando o pensamento
Relâmpagos ligeiros
Cortam o espaço sideral
Trovoadas em rumores
Anunciam temporal
Medo estuante
Agita a imaginação
Ventos uivantes
Calafrio no coração
Apagam-se as luzes
Rompem-se os fios
Vento sacode a janela
Raios driblam a escuridão
Voz emudecida
Vento persistente
Chuva aguerrida
Temporal renitente
Grito por fim:
Para, chuva!
Chega, ventania!
Apieda-te de mim!
Sou pura covardia!