Cinco poemas de Duan Kissonde
Duan Kissonde nasceu em 1993 na cidade de Porto Alegre. É poeta o tempo inteiro e graduando do curso de história pela UFRGS nas horas vagas. Publicou em diversas antologias, como Pretessência: Antologia do sarau Sopapo Poético (Editora Libretos, 2016), Jovem Afro: Antologia Literária (Editora Quilombhoje, 2017), Kintais do Mundo (Org. Sarau no Kintal-SP), Cadernos Negros Vol. 41 (Editora Quilombhoje, 2018) e Revista Ovo da Ema n 3° (Escola de Poesia, 2018). E está com o seu primeiro livro de poesia no forno.
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ÁPORO DIASPÓRICO
[ ao mestre com carinho]
Um preto cava
cava sem alarme
perfurando a terra preta
sem achar escape
Que fazer exausto,
em país bloqueado
enlace de noite
raiz e minério?
Eis que o labirinto
(Oh razão e mistério)
o preto se desata:
em verde, sozinha,
anti-hegeliana
uma favela forma-se.
*
CRUZ INSOSSA
O maior poeta de todos os tempos
morreu na miséria
Um
miserê-total
Meu pai sempre me dizia:
Poesia não dá camisa
vai viver de que?
De brisa?
[RA RA! ]
E eu,
por pura teimosia
me agarrei na poesia
como num colete salva-vidas
contraveneno
&
soro antiofídico
para este meu sonho intranquilo
chamado vida.
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WINTER IN AMERICA
Primeiro eu lutei contra os dragões e dinossauros
[dos meus sonhos infantis]
Mais tarde, ainda menino
Encontrei o meu destino de homem negro
Um corpo negro no mundo
Hoje eu enfrento a neve todos os dias
lutando contra a natureza, alva e covarde
Destes frios olhares que me enxergam
mosca, gado ou barata.
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BANZO N°2
O negro cantou para o mundo
Um canto rouco na corda unívoca
do seu berimbau do Benim,
acompanhado do coral de uma spiritual church
do sul da América do Norte
Canto forte de uma chama que arde
Banzo, ipsis litteris, também foi tradução para liberdade
Nove voltas não foram suficientes
E esta poeira que eu carrego debaixo das unhas
São velhas cantigas do Bailundo
Na noite escura da mata
Meu coração aqui jazz, sufocado
Silencio meus medos
e me misturo no blues das águas barrentas do Congo.
Ivy MENON
NOOOSSAAA, que coisa, hein? MARAVILHOSOS!!!