Cinco poemas de Hugo Ribas
Hugo Ribas é escritor, pisciano, tem 35 anos e vive na cidade de Itatiba/SP. Ator frustrado, quase formado pelo Teatro Escola Macunaima, onde apresentou peças de Gianfrancesco Guarnieri e Friedrich Dürrenmatt. Também quase se formou em Design Gráfico, mas desistiu no último ano. De todos os concursos literários que já participou, conseguiu apenas um prêmio de 5º lugar no XV Concurso Literário JI / AEPTI, na categoria Contos e Crônicas, na cidade de Itatiba. Já foi colunista em alguns blogs que não existem mais. Faz e vende bolos caseiros para sobreviver no mundo real.
***
Olhos de sangue
tenho olhos de sangue…
e quando vejo alegrias,
sinto-me ódio.
tenho risos amargos…
e quando vejo vidas,
sinto-me morte.
mataram-me a alma…
deixaram-me um corpo.
corpo de morte,
vida de agrura,
boca de grito…
olhos de sangue.
*
Turva essência
Havia algo de cu
em curiosa boca…
Não falo da forma,
muito menos de aparências.
Eu falo de essência.
Da boca encudecida
jorravam merdas
disfarçadas de palavras.
Falas e opiniões
cheirando
a peidos adoecidos.
Não havia no mundo
boca mais pútrida
como aquela.
A boca,
com ares de cu,
desonrava a classe das bocas
e também a dos cus…
Provou-se,
tempos depois,
a inocência da boca.
O culpado,
no fundo,
era o dono da voz
emissora de tantas bostas.
Ele,
de fato,
tinha alma de fezes…
A boca,
inocente,
só fazia botar pra fora
o que o nutria
por dentro:
Merdas…
*
Ele já não prestava mais para essas coisas
Queria mesmo
era livrar-se dos braços
entrelaçados
em seu corpo todo frio
e arisco
e ferido.
Mas que infelicidade era aquela
de querer fugir
a todo custo
das afetividades humanas?!
O abraço cessou,
enfim,
e a ausência fez-lhe entender
o que não percebia
em si.
Faltaram-lhe abraços,
negaram-lhe amor.
Ele já não prestava mais para essas coisas.
*
Um pinto
Tratava-se de um pinto,
era belo e vigoroso
como poucos.
Dentre tantos retratos recebidos,
ao longo de sua curta vida,
aquele parecia-lhe o mais singelo,
poético, potente.
Um pinto.
O pinto,
cuja cabeça brilhava
ante o reflexo do flash,
trepidava feito um vulcão
prestes a entrar na mais bela das erupções.
Encantava-se toda vez que presenciava o fenômeno…
Erupções de pintos eram raras,
quentes, arrasadoras.
Abrasava-se,
sempre que era atingido por lavas
quentes
de pintos em violentas erupções.
Abrasava-se,
feliz.
Ao ver o retrato do singelo e vigoroso pinto,
optou por ignorá-lo,
embora o considerasse airoso.
Era apenas um pinto,
como tantos outros lindos pintos que vira na vida.
Era só mais um pinto,
sem rosto, sem alma, sem vida,
vazio de afeições,
preenchido por tantas erupções
Estava farto de pintos sem faces.
Almejava olhos, alma, coração,
Erupções que explodissem
não só da potência de um pinto,
mas também da essência
de um coração humano.
*
Decomposto
Tenho mãos de lodo,
elas fedem.
Não se aproxime.
Toque-me
e será derrocado,
arruinado,
abatido.
Encardido de aflição ficará…
Quisera eu ter mãos de lótus,
âmago de paz.
Tenho mãos de ruína,
elas aluem.
Afaste-se.
Não chegue perto
ou será destruído,
assolado,
demolido.
Proteja-se…
Porque eu mesmo já exilei-me de mim.
Defuntei-me.