Cinco poemas de Janaína Moitinho
Janaína Moitinho é poeta, morre e nasce um pouco em cada poema, tem na arte a matéria que lhe move, assombra e sustenta.
***
| busca – vida |
busco voraz
o poema que abrace
o poema que afague
o poema que diga
o poema que trague
persigo folha a folha
livro por livro
na estante que por pouco não cai em mim
abro um a um
corro os olhos na tinta preta
que os preenche
e me falta
títulos
vazios
temas
estilos e palavras chave
que nesse enquanto
nada abrem
a sede por decifrar os incontáveis porquês
brilho nesse instante,
tempo, alcance, texto
a dor
a busca
a beleza
e eu
fundidos.
desencontro o poema prévio
mas em páginas inéditas me encontro
viva
o ápice
daquilo que continua
a busca voraz
pelo poema que abrace
pelo poema que afague
pelo poema que diga
pelo poema que trague
se ainda não existe
emprenho-me e nutro
esperando que nasça.
*
| casa viva |
teu ar
e o do mundo
indo e vindo nas janelas
teu olhar
dentro
e fora
pincela beleza aos móveis
as paredes assistem
todas as cenas
e sorriem ao nos ver dançar
desde os dias em que a paixão
ali fez morada
a casa também respira
e as portas nunca mais foram fechadas.
*
| cena comum |
o fósforo em suas mãos
queimando minhas certezas
acinzentando todo futuro
que não pude ter.
odeio ser inflamável
odeio estar sempre prestes a explodir.
meus passos buscam distâncias
mas o olhar está sempre
a dividir horizontes.
caminho,
mesmo sem saber
até onde sua chama alcança.
*
| sereia |
na rede dos braços teus
me prendi sereia
no mar dançamos
fingi não saber nadar
*
| conselho |
segura
na mão
dos
seus