Cinco poemas de Mauro Aguiar
Mauro Aguiar nasceu em 1968, no subúrbio de Vila Valqueire, cidade do Rio de Janeiro. É designer gráfico pela UFRJ e letrista de música popular. Desde 1998 escreve parcerias com grandes compositores de nossa música, tais como Guinga, José Miguel Wisnik, Fátima Guedes e muitos outros. Foi finalista por duas edições consecutivas do Prêmio Visa – Compositores e do programa Itaú Cultural.
Em janeiro de 2019, lançou pela Editora Patuá seu primeiro livro, Inexplicações e Outras Certezas Vagas.
***
O Nome Secreto
Todas as palavras do mundo são sonhos.
Nos sonhos, as palavras descabem-se.
A matéria dos sonhos é a matéria.
Na artéria das palavras, o tempo espesso some.
O que resta não deixa rastro.
Há um astro em cada antro.
Todos os mundos são sonhos de uma palavra etérea.
O nome secreto de Deus é
Espanto
*
Mancomunado
Mancomunado com o mundo
munido de tudo
num dociracundo arado.
Mancomunado com o miúdo
no desmando de campo
ao antro atado.
Mancomunado com o profundo
som, sobretudo o mudo
o imaginado conteúdo.
Mancomunido de nada
e cada vez mais atado a tudo
manteúdo e condoído dom.
Mancomunado e vagabundo
oriundo de um lugar
onde um rotundo não
é desde sempre dado.
Mancomunado com o comum
e com o cúmulo,
mancomunado.
*
Exceção
Então,
nesse (unís)sono pesado,
Quem vai dar o próximo pass(ar)o?
O homem de aç(id)o?
*
Miragem
Grafitado na minha retina:
Esse muro é mera miragem.
Ultrapense-o!
*
Antinau
No casco lia-se:
Lacuna
Escuna de sal navegando a farsa.
A rota: nula.
A lua, alta, no céu faltava
como hoje a rua
anda erma de céu.
E deu um branco na memória
mas a ciência da ausência
é contar uma história
sem a mínima existência.
Na vela via-se: nada.
A água parada
fantasmagorava.
Até o que não era
sumia,
e o oceano achou seu ralo.
Sobre o que não se deu,
depois,
eu calo.
Aliás, nem fui,
nem vi, nem sou.
Só sei que a âncora
pisou em falso no sem fundo.
E, nem mesmo quando o…