Cinco poemas de Sara de Melo
Sara de Melo é poeta, artista e bióloga. Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina e licenciada em Letras pela Universidade Católica de Brasília. Doutoranda em Educação, Arte e Linguagem pela Unicamp. Instagram: @saradmelo
Poemas presentes no livro Essa casa feita de palavras (Voamundo Edições) e no livro Casas-nuvem (no prelo, 2020).
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Tentativas de tradução
I.
do silêncio para a língua das chuvas
II
do canto das cigarras para a língua dos ventos
III
do som das águas profundas para a língua das ondas em arrebentação
IV
dos caminhos das nuvens no céu para a língua dos rios voadores.
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Poema dentro dos padrões científicos:
Objetivo desse poema:
a) Dar visibilidade às flores do mato.
Justificativa:
Os diferentes tipos de matos, também conhecidos como capins, florescem o ano inteiro em terrenos baldios, bordas de meio fios, intersecções de concretos e lajotas. Gastam a energia que captam do sol nesse processo de florescimento e não são sequer notados. (Mas nem por isso deixam de cumprir seu objetivo essencial: espalhar sementes).
Resultados esperados:
Esse trabalho contribuirá para alcançar o halo da planta (LISPECTOR, C.) e para pegar no estame do som (BARROS, M.).
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Ephemeropteras:
ordem de insetos anfibióticos cujos adultos apresentam um curto período de vida, às vezes um dia, às vezes algumas horas apenas.
Quanto tempo vivem os Ephemeropteras?
O tempo deles é o hoje.
Quanto tempo se preparam até chegar no hoje?
Quanto tempo dura o hoje?
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Canto triste
a flor
dessa planta de palavras
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Não posso ouvir
a palavra
café
que já coloco a chaleira
no fogão
e o aroma
percorre
meu corpo inteiro
a paisagem da casa
as letras da palavra casa
o livro
aberto
sobre a mesa e as palavras
do livro
acendem.