Dois poemas de Djulia Marc
Djulia Marc, sem pseudônimos literários, no auge dos seus 22 anos de idade onde pelo menos um terço dele foi escrevendo. autobiografia clandestina, latino-americana e corrosiva. dramaturga e escritora com síndrome de impostor.
***
a chuvarada
ignoro teus pássaros mortos, caindo aos montes do céu.
os envelopes, os lacres, os tijolos, os olhos marejados.
teus pêlos de fio imenso. a linha invisível entre vida e a morte.
escrevo porque sei que me sobraram as últimas palavras – as que mentem, as que cospem.
e a poesia que se faz do amor, protelo.
não alcanço a ti
nem sequer tuas penas.
*
navalha
todos os pregos foram calados na surda distância entre você e minha coluna.
te abato na inércia dos meus cabelos que embaraçam com o seu.
te resgato da lama com a raiva da fruta mordida.
e te suspendo,
com o mesmo amor de ontem
aos berros e corpos esguios
saúdo teus dentes em minha carne
e assumo a culpa.
dormes em mim o sono dos justos.