Seis poemas de Paulo Rodrigues
Paulo Rodrigues nasceu em Caxias-MA, em 16 de fevereiro de 1978. É Professor de Língua Portuguesa e de Latim. Foi Secretário de Educação de Santa Inês. Escritor, poeta, jornalista. Obras: Dissonâncias Poéticas em Poemas Acidentais (Poesia/ Editora 360º), em 2013; Crônicas da Cidade e Outras Narrativas (Crônicas/ Editora 360º), em 2014; Apenas um sujeito lírico (Poesia/ Editora 360º), em 2015; O Abrigo de Orfeu (Poesia/Penalux), em 2017 .
***
ACIDENTAL
deito em tuas pernas
depois do amor.
pela primeira vez
entendo a distância
entre o céu e o Aconcágua.
espero ali,
em silêncio,
um mar surgir
como surgem as manhãs
na minha cara.
só as pedras da descida
me conquistam,
agora.
*
MORRER NUMA ESQUINA
todo dia matam
um homem numa esquina.
é quadro de jornal
que não abre cicatriz
no fígado da cidade.
nada me espanta
mas, o corpo dele
sangrando a rua
cortou-me os pulsos.
entre cacos de telhas
e alguns sorrisos
juntamos o morto.
ele parecia aflito.
*
OBSESSÃO
entro na casa
que meu pai desenhou,
não reconheço as marcas na parede.
o corredor é escuro.
guarda as sombras
de um homem
que cortou o desespero,
sem revolta.
a casa não é a mesma,
mas o menino aguarda um afago
com as mãos,
na cabeça.
*
DA GRATIDÃO
os passos apressados
cortam a avenida
sem olhar o perigo.
tenho pressa
minha mãe espera
por minha mão.
ela me falou
dos trovões
e da fraqueza
das manhãs.
tenho pressa
cubro a chuva
com o pulso.
de joelho
espio a bênção.
*
HOLOCAUSTO DO LÍRIO
eu nasci do buriti,
debulhando nas tuas palavras
a virada do vento.
eu cresci nas águas,
e nas sementes verbais
alimento os peixes.
queimei a lavoura
no resguardo das tuas mãos,
percorrendo incertezas
no cavalo de São Jorge.
não sei mais chorar
(não permito mais o holocausto).
sou um mongol
esperando o sol de Monet.
*
DOSE
na praça Duque de Caxias
embriago
o sonho
nos olhos nômades
do meu ressentimento.
saio pisando
a cinza dos cigarros
sem interesse
no desespero do óbito.
encontro outros bêbados.
seguro na mão
do homem
que teima
em caminhar.
com as mãos ainda casadas
esmagamos uma aranha.
agora,
choramos juntos
mas, não morrerei de lucidez.