Quatro poemas de Adriane Figueira
Adriane Figueira nasceu em Santarém, no Pará. Em 2011 se mudou para o Rio de Janeiro, onde vive atualmente com a mãe, as duas irmãs e o seu gato John Lennon. É licenciada em Letras pela UFPA e Mestra em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela USP. Entusiasta do lirismo desmedido, revisora e pesquisadora. Seus manuscritos versam quase exclusivamente sobre seus afetos, na ordo amoris que desassossega a poesia dos dias. Publicou textos em duas antologias: 70x Caio (Patuá – 2019) e Ruínas (Patuá – 2020).
***
Lupa
Feita de vidro
Lente convergente
Utilizada para ampliar pequenas imagens
mínimos detalhes
texturas escapáveis
Na minha caixa de lembranças
embaralho as letras
tudo se agiganta.
*
(Texto escrito a partir de três canções do Arctic Monkeys)
Ser acordada ao som de uma valsa amargurada
Tomar café com a cara amassada e derrotada
no hotel dos corações partidos
Ser vencida pelo acaso inoportuno.
Não, eu não parto corações,
apenas finjo que o amor não é isso tudo o que dizem
e que você foi apenas mais um amante no jogo de azar
Definitivamente, não sei jogar
Ainda tenho vidas para gastar?
Sem jeito para a poesia
Não sou como um Dandelion & Burdock
Apenas limonada
espremida com as cascas
não adoçada.
*
Há um nome que está sempre na ponta da língua
Pousado em todas as janelas da memória
Em um lugar onde a escuridão não faz morada
Por vezes fica submerso e quase afunda
Ainda doce vira salgado
Depois volta revigorado
Não aprendi a pronunciá-lo
Tropeço no significado
que escapa ao dicionário.
*
Alice Ayres
Enquanto você caminha distraída pelas ruas de Londres
Eu paraliso, sempre, diante do rubor do seu cabelo curto
Na stripper de peruca rosa ou loira
Do seu rosto enigmático
de sorriso cínico
triste.
Olá, estranha!
Cuidado, o fluxo é ao contrário
O rosto de aspecto ingênuo por trás das lentes é enganoso…
Você sabe, previu no ato.
Miro o ecrã e tantas perguntas se agitam
Como você consegue suportar um mundo de mentiras?
De que lugar desconhecido vem essa força que te mantém de pé?
Por que aceita migalhas disfarçadas de cuidado?
Alice ou Jane
Filha do vento
Ficção
Realidade
Eu não consigo tirar os olhos de você.
” – Qual é o meu eufemismo?”
” – Acabou, eu não te amo mais.”
” – Vai embora.”
Tão perto e distante
Desconcertante.