Quatro poemas de Henrique Souza
Henrique Souza nasceu no ano de 1988, 17 de Novembro. Fez graduação e mestrado de Filosofia pela UFMT. Já deu aula tanto para o Estado de Mato Grosso como para o Instituto Federal. Autor do livro Poemas Sobre a Musa (ou sobre o amor, o vento, a pedra).
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Anjo
Em homenagem à Miguel Otávio
Seus braços eram pequenos, tão pequenos
Mas capazes de abraçar o lírio e o mundo
E os seus olhos e sorrisos se misturavam nas brincadeiras de júbilo
Mas quando foi tirado dos braços da única mulher que amará
O que havia em seus olhos além da solitária escuridão?
Nos últimos instantes rios tristes saiam do seu corpo
Sua boca gritava uma agourenta canção
Escutada em todas as línguas
Fugindo da dor queria ser anjo e voar
Neste pequeno instante de esperança e morte
Seus olhos e sorrisos também se misturavam.
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Morte Dama
Ó morte, tu atreves-te a seguir por esse caminho
Apesar de todos os meus suplícios
Gritos lágrimas devaneios
Parece que nada te sensibiliza
Esguia, rondava já aquela rua
Pronta para levar seu futuro amor
E aconchegá-lo em seus braços finos
Em um gesto de pura delicadeza
Reivindicando seu direito natural de amar
A todos aqueles que caem em seus braços
Ao menos teve a perspicácia de esperar
Aquela despedida e um último olhar de sabor.
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O riso
Sobre a perspicácia do riso eu me calo
Não há nada para se dizer e nem compreender
É o comedimento que há entre a terra e o céu
É o não-saber no saber que a gente finge que sabe
Ó beleza da mulher que esconde seus sonhos
Ó demônio que ri das flores mas tem pavor da solidão
Eu me encero aqui com um certo contentamento da tolice
Enquanto ainda sou um cavaleiro sem armas e cavalos.
*
Águas de chuva
Água da chuva que nos brinda de brincadeira mil
Os meninos de uma rua levemente inclinada
Fingiam ser piratas caindo de uma cachoeira
Com seus barcos de papel umedecidos de sonhos.
Nas águas das chuvas o futuro parecia pré-desenhado
“Olhem o barco, não fuga, não fuga meu amor”
Esvaziava o corpo vendo o barco seguir seu rumo
A alguma coisa escura e úmida, mas não solitária.