Quatro poemas de Ismar Tirelli Neto
Ismar Tirelli Neto (Rio de Janeiro, 1985) é poeta, ficcionista, tradutor e roteirista cinematográfico. Seu livro de poemas Os Postais Catastróficos figurou entre os semifinalistas do Prêmio Jabuti e nas listas de melhores do ano das revistas 451 e Suplemento Pernambuco. Seu mais recente livro pode ser acessado no link: ismartirellineto.com. Atualmente, reside em São Paulo e ministra oficinas de escrita criativa.
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Terrivelmente ela aparenta
Debaixo da cama este monstro de graças
Despachando duplos duplos pelos mais longínquos paços
Nenhum território terá meu nome que me crava
Nenhum território afora este
Um vento cravado
Entre os quatro pés do leito
*
Quando já não tenho o que a quem gafar
Com este cansaço
Vou para os cometimentos da paisagem
Noite na oficina mecânica
No terreno baldio
As linhas-mestras de um estacionamento
Desencaminhadas pela lanterna
Do vigia noturno
Recordo
Meridiana
Que o outono é invenção recente
Salvo engano
A última estação a chegar a um nome
Estas coisas de nomes, antes, depois
Não caem
*
Helena na Praça Roosevelt
De que tinha tanta avidez eu
Os ventos não funcionam
Vedam
A rua até os nomes
Tricas
No nomear mas
Não me tosquiam as mitológicas
Melenas, a peruca
Exilada em Rossana Podestà
Planície de concreto, malabaristas
Inábeis
Homens esbofeteando-se a si próprios imprecando
Contra o Olimpo. Nada de novo
na febre.
Para que sopro
caminho agora?
*
A pensão me segue
Pelas ruas
Terra batida ou asfalto
De estado em estado uma pensão me segue
Dura lacrimosa nada
Menos conventual
Não confunde seus
Nervosos talcos
Aos cheiros da quinta onde eu me possa
Porventura encontrar
Uma pensão pelas quinas
Entre as pimenteiras
Desabrochos regimentados
Toque de recolher
A disciplina das chaves
A disciplina que chamusca
A palha dos colchões
Cheiros e vozes de trespasse
Moram em mim umas escadas
Grandes sonhos grande malícia
De estado a estado
Sempre alguma malha do verão
Alarmante secura
Ardume
Ar chapiscado