Quatro poemas de Matheus Fersanto
Matheus Fersanto é estudante de Jornalismo. Mora em Nova Olinda, Ceará, onde também atua como gestor e colaborador de projetos socioculturais.
***
sesta ou sexta?
tarde da manhã e cedo da tarde
almoço de três a cinco taças de vinho.
sou papel toalha encharcado
e uma mancha no tapete.
dormi e caí num buraco:
meio da tarde, cedo da noite.
metade de maio? final de agosto?
hoje é hoje?
que horas são?
*
hábito
encosto na parede e durmo.
vou sempre de dentro para fora,
de um lado para outro num grande salão.
no sótão sou mais simpático,
na sala não sou ninguém.
o quarto é secreto.
me demoro para sair,
gosto de voltar.
a cozinha é como um estômago
e as pernas como uma calçada.
os jardins uma bela cabeleira.
descalço: um contrapiso,
abraço: uma vizinhança;
e pulando: um terremoto.
as mãos: portas e dobradiças,
cadeados e portões,
jarros e prateleiras,
uma pá,
o quintal inteiro cheio de folhas.
*
nudez
pelas ruas se vê toda a gente com a bunda de fora. despidos, incontornáveis, hipnotizantes. de longe se vê um camelo tentando entrar no buraco de uma agulha e um lençol não cobre uma montanha.
*
parestesia
o mundo inteiro deita sobre minha esperança
como quando me deito sobre meu próprio braço
e acordo com ele dormente.
não sei se o coração aguenta bombear amor para lá.
viver é um braço formigando.