Quatro poemas de Natasha Felix
Natasha Felix é de 1996, nasceu em Santos e escreve.
***
na praça may ayim
pensando em audre lord e em marielle
porque temos medo cerramos as próprias
mãos porque temos medo arrancamos
os molares porque temos medo
martelamos os joelhos porque
temos medo botamos fogo nos nossos
cabelos porque temos medo atiramos os
ossinhos do tornozelo no canal porque
temos medo os dedos quebrados são justos
porque temos medo cortamos línguas
unhas orelhas, o caminho.
tiramos raspas de pele dos cotovelos
testamos a faca na jugular
plantamos uma granada debaixo da cama enfiamos
a arma do crime no queixo
porque temos medo.
cortamos a energia desligamos os resistores
porque temos medo o sol se deita
amanhã e depois porque temos medo
temos ferramentas temos o que cerrar arrancar
martelar temos o que incendiar o que jogar
fora o que cortar porque temos medo
sabemos cuspir enganar trair porque temos medo
porque temos medo
dormimos tranquilas.
porque temos medo
somos também muito elegantes muito obrigada.
*
estira bem os braços só então amputa o que rodeia
*
ao homem que se levanta comigo
para l.
espero que as unhas cresçam
só depois solicitações, juras,
os números.
enquanto, isso.
qualquer justificativa.
espero que você não.
por favor.
mantenha a respiração acontecendo
beije sua mãe na testa, peça a benção a ela.
não olha a polícia nos olhos
se for preciso, esconda-se bem.
*
a faca\o amor
daqui já é possível ouvir
pouco antes de atravessar o mar de alborão
buscando o marrocos seu cheiro no marrocos
deixar as cinzas em rabat
é o plano.
foda-se.
manter a faca amolada os pés prontos para correr
quando os militares.
daí você lambe a ponta
deixa a lâmina te conhecer.