Seis poemas de Adriana Silva Santiago
Adriana Silva Santiago nasceu em 17 de março de 1969, ano em que o homem pisou a Lua pela primeira vez. Daí nasceu o poema “1969”, que compõe o novo livro da escritora: Flores e borboletas em meio século de poesia, ed. Scortecci, que está sendo lançado neste ano. A obra é uma celebração dos 50 anos de vida da escritora e poeta, que nasceu em Carangola, cidade da zona da mata mineira, e que, atualmente reside em Três Pontas, sul de Minas, onde cuida de seu pequeno sítio de produção de café e de onde lança, para o Brasil e para o mundo, seus poemas, contos e crônicas. Desde criança, Adriana Santiago dedicou-se a escrever histórias e poemas, muitos poemas e sonhava publicá-los algum dia de sua vida. O sonho vem se realizando. A escritora participou de diversas antologias poéticas, em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e em Portugal, pela editora Hórus. Em 2017, lançou seu primeiro livro de poesia e crônicas: Mar revolto, ed. Scortecci. É jornalista, formada pela UNI-BH/1992; bacharel em História, pela PUC-MINAS/2003.
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Flores e Borboletas
As flores, as colhi
Em estradas verdes
São muitas as cores
De borboletas azuis.
As bicicletas livres
Voam com o vento
O pensamento leve
O coração sorri.
Os rios passaram
Dos pássaros ouvi
Notícias suas ao longe li
A lagos e noites daqui.
Amores e amoras roxas
Sobre os muros
As rosas loucas
Sua boca, não esqueci.
A lagarta, a duras penas
Asas voaram belas ao céu
Azul cristalino livre e fino
Vôo pleno de alto véu.
O mar o rio sem forma o amor
Metamorfose
Fase, foste um dia dor
Hoje canta, bela ela inteira fera.
Mulher lua estrela brilho
Cor música doce luz e flor
Borboleta azul sedenta pronta
Liberta estréia em palco, glorioso conto.
Conto de vida, amor e dor.
*
Lamas Gerais no Brumado
Nefasta
Nefasta lama
Tudo cobre, tudo arrasta,
Nada sobra, tudo mata.
Nefasta lama
Rios sufoca
Empesteia as águas
Asfixia os peixes
Enriquece os grandes.
Nefasta lama
Destrói, exclui do mapa
Memórias inteiras
Vidas (antes) intactas.
Nefasta lama
Que entristece as gentes
Empobrece o mundo
Enluta milhares
Arrasta tormentos.
Das mulheres, viúvas que ficam
A dor escarnece, os filhos nos braços
Amores mortos, o peito rasgado.
Enterra vivos, os sobreviventes.
Sujeira nos muros
As casas gritam
Os homens morrem
Berro de sangue.
Estancam-se os gritos
Com panos cor-de-rosa
A rosa não tem culpa,
Assiste
Do ouro que cega.
Lamas Gerais
Lágrimas ácidas.
*
Oração
Oremos hoje
Pelas crianças do mundo!
Índias, asiáticas,
Negras, brancas, pálidas
De espanto.
Oremos hoje!
Crianças, ricas, pobres
Pobres crianças
Das ruas, órfãs, refugiadas.
Pelo amor ao Cristo,
Cuidemos de nossas crianças!
*
Chumbo não, Rosa
Minha arma: a rosa
Palavra
Em minhas mãos não quero
A pólvora, rastilhos.
Rejeito.
Não, muito obrigada,
Matar, não quero.
Quero sim, o abraço.
Amar meu diverso
Oposto, inverso
Soltar o bem pelo Universo
Vai pipa, vai balão
Em céus de agosto
Dê volta ao mundo
Do infinito ao mar
Continente distante
Terra quente, conflitante.
Soprem! Ventos bons
Ares leves, brisas mansas
Fumaça a dispersar.
Plantem
A poesia no coração
Dos homens
A Poesia salva.
Salve a Poesia!
Salve-nos, Poeta!
*
O Canto das Avós
Doce canto de encanto que embala
E cala o pranto
Embevece, a criança
Inocente, naqueles braços
Frágeis, ternos
Transbordantes de amor.
Canto lírico, amor em versos
Canta Maria, embala teu neto,
Ensine-o a sonhar
Nas asas do belo
Poderá voar.
Cante, Maria, cante, Carolina
As colchas
De retalhos, (as crianças dormem)
Costuram panos, tecidos brancos,
Coloridos bordados, letras, fazem versos
Abraços fazem laços
Chamam os anjos para cuidar.
Filhos dos filhos, filhos das filhas
Filhas das filhas, filhas dos filhos
Netas, netos.
Sangue corre rio no leito
Poesia escorre dentro do peito
De avó filho e filho, verso perfeito.
Cante, Carolina, cante, Maria
Avós ensinam, amam, bagunçam.
A Natureza é sábia
A avó criança volta a correr
Com os netos, a brincar
Criança volta a ser.
Alegria da casa,
Criança é astúcia
Sabe com quem contar
Vó, guarda segredos (arcos da velha)
Ensina brinquedos, traquinagens,
Folguedos
Os netos, põe a rezar!
Ó anjo da guarda
Que aos netos protege
Cuidai das avós
Crianças cabeças de algodão.
Dê-lhes um pouco de juízo,
Pouco. Muito, não!
Cante, Maria, cante, Carolina
Seu canto nos transborda
Paz, amor, gratidão.
Doces, avós, bravas, destemidas
Amadas, lembrança sempre refletida
Na memória do coração.
*
Amor Infinito
Amor é sopro
Curva
Vento no rosto
Estrada a percorrer sonhos
Amor é Música
Sentimento que não se cerca
Só cabe
Dentro de porta aberta.
Amor é Luz
Sombra, corpo
Seguro porto
Onde dorme a dor.
Amor é beijo
Abraço se faz laço
Solta pipa
Livre no espaço.
Amor é lua
Sol, estrela
Sonho
Alegria contumaz.
Amor é isso e muito mais
Não cabe em papel
Raso embrulho
Folha pouca para mergulho.
Amor é tudo
Isso e muito mais
Grande tão, forte intenso
Lindo, livre, imenso.
Voa
Traz, saudade se faz
Materializa-se
Abraço teu.