Três poemas de Lia T Medeiros
Natália Teixeira Medeiros, ou Lia T Medeiros, seu pseudônimo, é uma escritora e artista na página Lia da Lua (@liadalua no instagram). Estudante da graduação de Escrita Criativa na PUCRS, fez diferentes publicações em antologias: o poema “Aplausos”, na antologia Sonhos Literários, organizada por Brenda Rodrigues e publicada pelo Selo Editorial Independente; o conto “Insônia”, na Antologia Dois da Escrita Criativa PUCRS, organizada pelo professor Bernardo Bueno; o poema “Fantasma,” na Antologia Três da Escrita Criativa PUCRS, organizada pelo professor Bernardo Bueno; o conto “O bosque”, na antologia Carpe Noctem, organizada por Mhorgana Alessandra e publicada pela editora Illuminare; e o conto “Vermelho”, na antologia Juízo Final, publicada pela Cartola Editora.
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Nós comemos escuridão
E bebemos da luz da lua
Alimentando as sombras de dentro
Deixando crescer nossas infelizes metades
Que escondemos do sol
E soltamos à noite
Nossos demônios estão bem acordados
Estamos dançando sem parar
Você quer me curar
Porque sabe que me dói ser aberta dessa forma
Eu te digo que não tem problema
Sei que os demônios nos arrebentam para sair
Essas curas não funcionam comigo
Eu tenho um buraco no peito
E nós dois dançamos para sempre
Porque apesar de corpos não poderem
Almas e memórias nunca param de se mover
*
Hora dourada
Cruzo o rio que percorre a floresta
Num barco que balança
Enjoada, vejo o céu alaranjado
Com tons de lilás, rosa
Até mesmo um pouco de azul
O sol está se pondo
E alguém sussurra que é a hora dourada
A hora em que os dois mundos se encontram
Meu mundo pacato, e o melancólico mundo dos espíritos
Sinto mãos tocarem meus ombros
E lágrimas vertem dos meus olhos
Mas o sol desaparece e a escuridão vence
Não há ninguém
Eu toco a água
Desço do barco
Talvez a voz de antes fosse minha
Pertencente à minha parte que morreu
Triste memória das minhas asas cortadas
Sabe, eu podia estar do outro lado
Ser inteira lá
Mas falhei e sigo sob essas pernas bambas
Não sei até quando aguentarei
Mas eu quero continuar seguindo em frente
Eu começo a correr
Até só ouvir as batidas do meu coração
*
Poema das crianças perdidas
Feche os olhos, conte até seis
E lembre-se das luzes
Que gentilmente piscam em meio à mata
Os vagalumes são estrelas caídas
Voando, perdidos na noite
Tentando, como você, voltar para casa
Eles lhe guiarão quando temer o escuro
Com eles você dançará, até que o sol chegue
Então você verá que os vagalumes sumiram
Antes que você pudesse dizer ´´obrigada“
Ou ´´adeus“