Três poemas de Lucas Litrento
Lucas Litrento é escritor, realizador cinematográfico e produtor cultural, vive na parte alta de Maceió. Como o Sobrevivendo no Inferno, nasceu em 1997. Estuda Jornalismo na Ufal e integra os coletivos Mirante Cineclube e Pernoite. Tem textos publicados em revistas de literatura e mantém um blog no Medium. Os meninos iam pretos porque iam (Graciliano, 2019) é seu primeiro livro. TXOW (2020), de contos, será lançado pela Edipucrs, como vencedor do primeiro Prêmio Delfos de Literatura.
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do livro Os meninos iam pretos porque iam.
Mano Brown também ama
canalizar a raiva
escrever punchlines
enquanto tocam jazz
escrever como jazz
não parar até que a meia volta do acorde tore no meio do solo
soar como jazz no pífano
mostrar que a cor da raiva não é escura
porque fazem amor no escuro
e assistem filmes
que não é apenas raiva
se é apenas raiva
fizeram assim
sem mexer um músculo
fizeram assim
criando monstros
compor sambas
porque sabe dançar
virar poeta pra mostrar
que não é feito apenas de raiva
sorrir como Brown
vestido de ouro
cantando soul
verde neon
sonho: estou dentro do banheiro
verde neon brota do meu corpo
oxóssi dentro do meu corpo
sonho: oxóssi usa minha boca
entoa rimas que não podem sair
do limite das pálpebras fechadas
oxóssi usa meus braços
a curva no ar que não se repete
fora do limite das pálpebras fechadas
oxóssi não repete nenhum movimento
nenhuma sílaba
somente a memória
até que a curva
se per-
ca
no ar inexistente
e o verde neon
(musgo na pele lama)
apague,
se possível.
melaço
primeiro a mulher preta,
depois as coisas bonitas,
todas juntas.
as cores se calam
e esperam
porque primeiro a mulher preta
e depois os monumentos, o mármore
e as curvas de pedra.
depois o desejo
porque a beleza vem antes.
é da cor da terra onde brota um jardim encrespado
e os espinhos, as coroas, as folhas
queimadas do sol e as abelhas.
o melaço entre as coxas.