Três poemas de Maria Geiça Trajano
Maria Geiça Trajano é natural do interior do Piauí e graduanda em Letras- Português e Francês pela Universidade Federal do Piauí-UFPI. Encontrou na escrita uma forma de externar tudo que lhe é íntimo e difícil de verbalizar. Lgbt, leitora, canceriana, vívida e poeta em essência. Revoluciona a si constantemente ao escrever sobre amor entre mulheres, na tentativa de exprimir o que muito já reprimiu. Sensível ao externo, segue tentando traduzir em palavras a complexidade de sentir, viver e amar.
***
CLAMOR DE UM CORPO EM CHAMAS
despida e deitada sobre os lençóis
fecho os olhos e te vejo
teu sorriso de canto e teus olhos famintos
meu desejo
devagar passeio por meu corpo
seios, quadril, coxas
e depois, no lugar onde mais te quero
tão doce quanto o sumo que guarda em teus lábios
teus dedos macios
use-os!
meu corpo chora por ti
e enquanto o prazer surge
te sinto sem sentir.
meu corpo em chamas clama por ti!
*
ESPERADO FIM
Gostaria que soubesse
que quando sentir em meu corpo o último sopro de vida
quero ao meu lado teus olhos
e guardar meu amor dentro deles.
E depois, quando terra e flores
eu sentir sobre o meu caixão
gostaria que cantasses ao mundo
os segredos que a ti confiei.
No mais tardar dos dias
não esqueças de mim e nem do meu amor,
leve-me flores
e me conte suas dores e alegrias.
Ainda que me doa partir
penso que as vantagens primeiras de viver
não suprem as dores do existir
nem a melancolia do que não se pôde conhecer.
Guarde-me consigo
e quando sentires minha falta
a tal ponto de querer juntar-se a mim,
lembre-se: a vida foi feita para você
a morte, para mim.
*
que sentimento é esse que em mim transborda
tresloucado, urgente, fugaz
com tanto ardor, em busca de algo em que se derramar?
sentimento esse que aflora ao toque teu
que necessita do teu olhar
da tua presença, essência e permanência
esse sentimento que rejeita a tua ausência
não aceita outros
te procura sem te encontrar
tal sentimento, não sei nomear
não sei esconder e nem afastar
pois somente tu és capaz de dominar
teu silêncio
lábios entreabertos…
molhados.
tu, única forma de domá-lo
tal qual fera sedenta
liberta, agora, em teus braços.
– o desejo é isso?