Três poemas de Sabrina Dalbelo
Sabrina Dalbelo é natural de Porto Alegre, reside em Bento Gonçalves desde 2008 e é servidora do Ministério Público Federal. Escritora de contos e poemas, é colaboradora do blog As Contistas. Já participou de diversos projetos antológicos, assim como tem poemas e contos publicados em algumas páginas literárias eletrônicas. É autora dos livros de poesia Baseado em Pessoas Reais (Poesias Escolhidas, 2017) e Lente de aumento para coisas grandes (Penalux, 2018). É aluna da Oficina de criação literária Contantes, projeto fomentado pelo Fundo Municipal de Cultura de Bento Gonçalves (2018). Acredita que uma pequena palavra pode carregar um conteúdo imenso.
***
M de Mulher
Murilo matou Melissa.
Murilo mutilou Melissa por meio mês.
Melissa, muito meiga, mencionou manias:
merecer massagens, musicar miragens, modelar miçangas.
Melissa mobilizava: mulher modelo, manejava melhoria às mulheres.
Melissa, maravilhosa, moça mansa e melindrosa. Musa de mentalidade madura.
Murilo, muito machista, mirou na meta de marginalizar Melissa.
Mentiu muito, muito mesmo. Manipulou-a maliciosamente.
Musculatura morosa, mira mareada, método monótono, Murilo era medíocre.
Mesquinho, mediante multifacetados modos, manifestou maldade.
Mal-intencionado, moveu-lhe a mão miserável, medonho e moralista.
Murilo maltratou Melissa. Murilo matou Melissa.
À mercê do monstro, à míngua de misericórdia, machucada, Melissa foi moída.
Melissa mofava a medo. Melissa mofava à mágoa.
A maneira de mudar foi a maldita morte.
Maculada, em mazela, mulher mucama, Melissa mereceu o mérito de mártir.
Melissas mobilizam mulheres.
O momento é de modificação. É de motivação.
*
a mulher sempre houve
a mulher apontada
caricatura inventada
é mulher, nada mais
nem antagonista, nem protagonista
a mulher é ser
corpo e funções e dúvidas
e vontade de fazer
a mulher não é bunda, ou tetas, nem só ouve
a mulher tem fala
a mulher sempre houve
coro e força e fogo
a mulher é mulheres
uma que não é una
é cada areia que forma a duna
*
Quem és? Perguntou à mulher.
Sou ossos maleáveis, músculos firmes e meu olhar é encantado.
Toda a força do mundo está em mim.
Piso forte mas não quebro as flores.
MARILIA GARCIA
TRÊS poemas de sabrina dalbelo ´parece ser a linha do tempo de muitas mulheres, com inicio,meio e fim, quando finalmente no ultimo poema ela surge consciente de todo valor que tem.
Sabrina dalbelo
Que lindo comentário. Obrigada!
Sabrina Dalbelo
Que alegria meus poemas, escritos por uma mulher para outras mulheres, no ruído manifesto!
Que eles possam inspirar muitas pessoas a perceber que a “mulher sempre houve”, nem protagonista, nem antagonista.
muito obrigada!