Três poemas de Thiago Scarlata
Thiago Scarlata nasceu no Rio de Janeiro em 1989. É autor de Quando não olhamos o relógio, ele faz o que quer com o tempo (Multifoco, 2017), Salobre (Urutau, 2018) e lançará (se nem tudo der errado) ainda este ano seu terceiro livro de poesia de nome Mundo Aberto (Urutau). Em 2016 foi finalista do Prêmio SESC de Literatura e em 2017 venceu o Concurso MOTUS – Movimento Literário Digital (UNIPAMPA). Participou de antologias e teve poemas publicados e traduzidos em diversas revistas, jornais e sites literários.
***
Para quando não houver mais covas
Empilhar caixões
até a Lua
Chegando lá
fazer da Lua
um grande cemitério
Isso nos daria tempo
até os corpos daqui
se decomporem e os ossos
virarem pó
Já na Lua, tomar cuidado
para os nossos mortos
não flutuarem
(lá há esse hábito)
Caso um ou outro escape
vagarão eternamento
como zumbis do espaço
Por fim, os que por lá morrerem
e quiserem ser cremados,
que remem até o Sol
*
Solitária
Quando tudo é ausência
Quando o que se quer é apenas
farejar uma fenda de luz e de som
Quando o calibre do ar é fraco e oprime
e o pulmão se esvazia de medo
Quando as paredes começam a ter nomes
Quando se implora a Deus pra ser a formiga
tão livre…
e nada mais harmoniza
Quando no forro dos dias só há febre
chocando os ovos do tempo
Quando sou eu o estraangeiro espantando as sombras
Quando o corpo desnuda e exibe
o que em mim é cravo
Quando pés famintos não correm,
velando a fria medida
de cada azulejo,
o que a noite escuta de mim
já não cabe
*
Turista
O olhar turista
é um olhar
faminto
De cômica
violência
Retina
atônita
Lambendo tudo
que o guia
aponta
Rindo
pelos
olhos,
levam na mala
outra cidade
que não a nossa