Um poema de André Siqueira
André Siqueira tem 28 anos, mora em Jacareí, interior de São Paulo, e escreve poesia desde os seus 15 anos. Cursou a faculdade de Letras pela UNIP de São José dos Campos (porém não foi concluída) e atualmente faz Pedagogia. Tem um total no momento de 15 poemas publicados em antologias, revistas, blogues de literatura e jornais. Lançou recentemente, de forma independente, um livreto intitulado Quase Ontem, que reúne poemas compostos entre os 17 e 22 anos.
***
Ária teimosa
Essa mulher pouco conhecida
está um tanto visível.
Oculto-me alvacento mas
eis que resvalo tentado.
Vejo Gianni Schicchi com prazer
e cuido fartar a vida
rútila, amortalhada em
homem tacanho.
O mio babbino caro gira
na ária contemplada, sugerida
pelo fogo guardado
que alvorece.
Os ares gotejam num
ar de absorto sutilizando o
instante descerrado e assentado.
Sinto o opus do que é anuviado.
Um lírico tom sorri no batimento
de quem perde-se encantado.
Tateio minhas familiares paredes –
percebo certa saliência.
Ela correra de corcel alado.
Atro, ponho-me à luz da
aporia vista – o corpo vê também
a grandiloquência da amada.
Entrevista, ponderada, entanto espraia
à medida que retenho. Puxo-a com
fingida calma. O mio babbino caro
não há. A doce voz alcança a amplidão.
Emergida a contingência mais pungente
dos que desejam, habito no voo
do cômodo da casa comprida
e folheio…
O espanto de crer que se
conhece, o que é
nobre bruma tão limpidamente
próxima.
O mio babbino caro, por que
essa nau a balouçar doida
no litoral luzidio dos
que atam-se espontaneamente?
Percebo apenas a ária nevoenta
do ser aconchegando-se vesperal
e nada familiar.
Entanto… O desejo…
Abro o peito, já fuzilado
e abismado, pois quanto mais
na penumbra, mais uma
luz projeta-se
queimando vermelha na carne.