Um poema de Roberto Andreoni
Roberto Andreoni nasceu em 1984 na cidade de Araraquara-SP. É doutor em História pela UNESP e atua como professor na rede pública de educação. Como escritor, tem alguns de seus poemas e micro-contos publicados em revistas (como a Mallarmargens e a Flaubert) e antologias organizadas por concursos literários (como o concurso anual de poesia da UFSJ). É autor de Minha língua é um ponteiro que lambe o tempo (Patuá, 2020).
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fábrica de oníricos: ou da ideologia
A Anderson Piva
um enxame
de moscas brilhantes
e anestésicas
deliram
pelas bordas
da minha áurea-abajur:
moleza
moral no pátio
das sensibilidades
e morfina
no interno dos olhos
de borracha.
algo como num sonho
que se sonha
original;
ebulição de memórias
em lento lago
psíquico.
mas contemplando,
atento, o parado
desta água
funda e quase
enigma,
vejo emergirem
seres comuns
à geografia das ruas,
ao vigor ácido
das urbes e dos postes
de energia elétrica;
vejo homens
feito agulhas
a tecerem avenidas
abstratas
na solidez dos meios
de produção.
vejo o que é natureza
e suas relações
de pedras;
vejo todos os demônios
e anjos de aço
a tramarem
em verdadeira fábrica
de oníricos.