8ª Mostra CineCaos: “18 de Julho” (2022) – Por Antonio Cuyabano Jr.
18 de Julho. Direção: Catalina Marín. País de Origem: Uruguai, 2022.
Como explicar um sentimento tão apertado, difícil de ser acessado e que nos permite entrar dentro de um ciclo que não parece ter fim. Em 18 de Julho, acompanhamos a protagonista em suas narrativas diárias, em meio a um cenário bucólico, no qual o tempo demora para passar assim como os dias da semana. O cansaço evidente da protagonista nos causa uma sensação de perda, ainda que adentremos ao ciclo, não conseguimos encontrar maneiras de sair dele.
O ciclo da protagonista, reverberado em sua maneira de atuar, remete-nos a uma situação comum, de perda e carência. Dentro de uma casa, num meio rural, podemos visualizar os traumas refletidos na condição de moradia. Dessa maneira, as estridentes manchas e trincos representam todo um contexto árduo vivido na pele pela protagonista. Ao demarcar a passagem dos dias da semana, podemos pensar como o tempo não passa porque queremos, mas sim por sua vontade. Ao decorrer do longa, notamos como as simples ações diárias são deixadas de lado, e o sentimento fatigante da própria existência surge como um obstáculo difícil de ultrapassar. A ausência de uma trilha sonora que nos embarque nesse sentimento melancólico fere a cada momento, como se a existência fosse um castigo. Nesse sentido, podemos ouvir sons vindos da natureza entre outros barulhos comuns, como o bater da madeira ou da água que pinga na pia. 18 de Julho parece um dia que nunca vai chegar, as conversas e devaneios da protagonista, que conta suas anedotas, servem como fio condutor para uma vida presa na sua rotina.
Além disso, podemos observar como a câmera percorre desde o cenário mais bucólico em contraste com a grande cidade. Catalina Marín contraria a ideia arcadista ao expor uma dissonância da palavra Carpe Dien, “Aproveite o dia”. Porém, pelo cansaço da protagonista, que se deita em meio a frutas e flores mortas, tal qual os quadros do famoso pintor Caravaggio, é possível notar que aproveitar o dia é impossível. Ainda assim, a própria ideia de Fugerem Urben, também do arcadismo, traduzido como “Fuga da Cidade”, é retomada no longa como uma forma contrária de se atuar, pois o que compreendemos no final é a aceitação do espaço urbano.
18 de Julho, é uma contemplação da ação de viver, em que não notamos os dias da semana, por estarmos envoltos nas nossas sistematizações. O entorno calmo e tranquilo do campo não reflete a mistura de sentimentos no âmbito interno, ainda que a fuga desse espaço se torne totalmente difícil. Viver é uma ação de cada dia, em que tentamos nos relacionar e criar momentos únicos. Entretanto, como viver tranquilamente, se não na face de enfrentar nossos intermitentes ciclos?
* Texto escrito a partir da programação da 8ª Mostra CineCaos (Cuiabá-MT), exibida online e gratuitamente no serviço de streaming brasileiro Darkflix no período de 01 a 10 de maio de 2023.
** Antonio Cuyabano Jr. Cuyabano apenas no nome, natural de Caçapava. Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso. Escritor e realizador cinematográfico.