8ª Mostra CineCaos: “A Viagem Sem Fim” (2021) – Por Antonio Cuyabano Jr.
A Viagem Sem Fim. Direção: Priscyla Bettim e Renato Coelho. País de Origem: Brasil, 2021.
A maré traz riquezas assim como traz o desespero, o que se esperar de um grande mar, além de suas imperfeições que contribuem para um acaso transformador. A viagem sem fim identifica como o risco está inteiramente ligado ao medo, e que a fortuna de um, pode ser a perda do outro. Através de recortes de imagens do filme Descobrimento do Brasil (1937) de Humberto Mauro, observamos uma atmosfera temida, no qual as ondas do mar anunciam um perigo que se aproxima lentamente.
O curta projeta o que seria a viagem feita pelos portugueses durante as grandes navegações. Partindo de um contexto bem sombrio, realizamos uma rápida relação com os navegantes. Desse modo, o material recortado possui, em sua maioria, a adição de uma estética feita em negativa. Ainda que a palavra negativa carregue a intenção dos realizadores em transmitir contexto marítimo. Em que preze, para os portugueses, recheado principalmente de incertezas, além da respectiva chegada dos navegantes às terras brasileiras. Nesse sentido, partindo dessa atmosfera caótica, os personagens possuem uma certa interação bem conduzida a partir dos recortes fílmicos. Ao acompanhá-los denotamos intenções negativas em suas representações. Esse tipo de apresentação é demonstrada através da justaposição de planos, em que primeiro aparece um ritual dos povos tradicionais, sendo apagado pelos grandes navios portugueses. Esse tipo de efeito fílmico contribui para um destaque entre as cenas, no qual há um vínculo, principalmente pelo material envolvido, logo, na fogueira preenchida por madeira, notamos uma ebulição do que seria a união e o conforto daquela manifestação. Outrora, ao observar os navios, construídos com madeira, a água por ter um contraste com o fogo, esfria e movimenta as embarcações.
A viagem sem fim reconta em seus recortes a pretensão dos portugueses na sua respectiva chegada ao Brasil. A narrativa se afasta da proposta de Humberto Mauro em romantizar esse encontro, ainda que, durante o período em que foi realizado, teria uma intenção mais educativa. A atmosfera sombria e inconstante contribui para ambos os participantes do encontro, em que salienta o risco português, que busca riquezas, e a invasão de um possível inimigo, sob a visão dos povos tradicionais.
A viagem é sem fim, porque ela ainda é contada, honrando aqueles que chegaram, fizeram mal a terra e aqueles que viviam a partir dela.
* Texto escrito a partir da programação da 8ª Mostra CineCaos (Cuiabá-MT), exibida online e gratuitamente no serviço de streaming brasileiro Darkflix no período de 01 a 10 de maio de 2023.
** Antonio Cuyabano Jr. Cuyabano apenas no nome, natural de Caçapava. Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso. Escritor e realizador cinematográfico.