8ª Mostra CineCaos: “Cru” (2022) – Por Antonio Cuyabano Jr.
Cru. Direção: Diego Ruiz de Aquino. País de Origem: Brasil, 2022.
Tudo é possível sobre uma mesa de bar, um olhar, um gesto ou uma dança pode criar diversas ramificações, mesmo que algumas delas estejam mais interiorizadas. Cru, curta metragem realizado por Diego Ruiz, evidencia a relação entre dois personagens que buscam em seus respectivos olhares uma assimilação ardente e arrebatadora. Do afetuoso até o mais extremo interesse, o curta representa uma relação entre movimentos do corpo com o próprio abrasador calor de nossa carne crua.
É extremamente curioso quantas interpretações podemos observar quando simplesmente reagimos ou interagimos com algo. Muitos tentam descrever comportamentos através da arte, e, em suas significações, comprometem-se em transformar os anseios mais inflamados num simples gesto visível. Nesse sentido, dentro de um espaço em que as conversas e os olhares se alinham, o interior grita para o exterior, na busca de manifestar seu real interesse. Esse tipo de conduta é inicialmente atribuída a relação entre os dois personagens que manifestam suas intenções por meio de pequenos gestos que, por mais simples que sejam, alimentam a narrativa. A efervescência dos olhares buscam algo além, desde um desejo íntimo, até uma atitude profunda, ligada diretamente ao próprio consumo. Entretanto, esses comportamentos têm prazo de validade, no qual o ambiente está tão ardente, que basta uma dança para abandonar preceitos.
A partir disso, explora-se, por intermédio da dança, uma atitude interna que busca salientar a relação entre os dois corpos. O ato de se despir evidencia algo além da relação íntima, uma vontade de rasgar aquele espaço que, certo modo, os distrai. Basta no próprio particular desvendar o sentimento não aprisionado por paredes. O calor antes descontrolado, ganha solidez para se manter afável.
Desde o acalentado movimento até o seu equilíbrio, enfim, os personagens se encontram a sós. E nos mais, descampado o espaço em que se encontram, os sentimentos ali aprisionados por conveniências superficiais são explorados pelo toque, que ao mesmo tempo rasga e acalenta seus corpos. Numa forma alegórica do íntimo, as personagens interagem exteriorizando sentimentos mais primitivos em busca do próprio contato carne e corpo.
Cru é algo natural, vivido e concreto, ressignificado para além do consumo, uma forma de expressão tensa, flexível e plural. A atmosfera efervescente, que busca acima de tudo alinhar os internos de seus personagens, busca trazer como reflexão o contexto para além da paixão entre olhares, a retomada de um sentimento rudimentar e ancestral. Em que busca salientar a união ou rasgo, nesse caso dos corpos em uma forma única e natural.
* Texto escrito a partir da programação da 8ª Mostra CineCaos (Cuiabá-MT), exibida online e gratuitamente no serviço de streaming brasileiro Darkflix no período de 01 a 10 de maio de 2023.
** Antonio Cuyabano Jr. Cuyabano apenas no nome, natural de Caçapava. Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso. Escritor e realizador cinematográfico.