8ª Mostra CineCaos: “Elisa” (2022) – Por Antonio Cuyabano Jr.
Elisa. Direção: Leticia Almeida. País de Origem: Brasil, 2022.
A voz ecoa a sós, mas ninguém responde. Miséria soa como pilhéria. Pra quem tem a barriga cheia, piada séria. Fadiga pra nóis, pra eles férias. Morre a esperança. E tudo isso aos olhos de uma criança. A partir da canção do cantor Emicida, conseguimos entender como a violência é exacerbada e preenchida por interesses frívolos, que machucam não apenas o meio, mas também aqueles que habitam nele. Dessa forma, o curta Elisa evidencia todo esse contexto agressivo, principalmente sob o olhar de uma criança.
Ao notarmos toda ambientação realizada pelo curta, conseguimos compreender tais eventos da destruição. Uma organização arquitetada por múltiplas ações de devastação discorre sobre uma paisagem destruída e invadida por um ar contaminado de radiação. Cabe a personagem Elisa o reencontro daqueles que se importam com ela, entretanto tudo se torna difícil, em meio a uma circunstância árdua. Elisa representa tanto a naturalidade humana assim como sua ingenuidade por ser uma criança, o ambiente ao mesmo tempo que amedronta, simpatiza com a personagem que percorre murais com rostos desaparecidos. A tecnologia, assim como os outros materiais, é preenchida pela natureza que, aos poucos, retoma seu espaço por direito. A devastação da guerra ganha palco para uma discussão interna do curta, ou seja, a relação da agressividade extrema com o próprio sentimento da protagonista. Dessa forma, percebemos a vontade de Elisa em encontrar os pais, como modo de encontrar um porto seguro em um espaço nocivo.
A proposta de realizar a obra utilizando da animação em Stop Motion busca detalhar espaços e criar uma atmosfera feroz, assim como onírica para a personagem, logo, observamos o capacete de mergulhador que corresponde naturalmente a uma ferramenta de proteção, como também um escape ao olhar de lugar destruído.
Ao olhos de uma criança, conseguimos compreender como Elisa propõe um argumento bem presente atualmente, de que a violência representada como um futuro distópico se apresenta em suas próprias proporções presente e acompanhadas diretamente por meio de câmeras e multitelas. Ao analisarmos essa crueldade para com o próprio ser, preocupamo-nos com as reais camadas de uma criança que não brinca, mas sobrevive.
* Texto escrito a partir da programação da 8ª Mostra CineCaos (Cuiabá-MT), exibida online e gratuitamente no serviço de streaming brasileiro Darkflix no período de 01 a 10 de maio de 2023.
** Antonio Cuyabano Jr. Cuyabano apenas no nome, natural de Caçapava. Formado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Mato Grosso. Escritor e realizador cinematográfico.