A docência e o futuro presente de Antônio Nóvoa – Por Ariadne Marinho
“À deriva. E a flexão de um verbo, ‘derivar’. É a partir dessa imprecisão, ou da conjunção de várias imprecisões, que propomos problematizar os atravessamentos que compõem o ser e o devir. Os modos de ver e de estar no mundo”.
Ariadne Marinho é historiadora, pesquisadora e mãe de Dionísio e Tom. Cuidadora da gata-idosa Cavalo de Fogo e da jovem cachorrinha Frau Caramello. Doutora em História pela UFMT.
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A docência e o futuro presente de Antônio Nóvoa
“Professores: imagens do futuro presente” (LISBOA, 2009) consiste em uma sucinta apresentação dos pensamentos mais importantes e emblemáticos do renomado educador português, Antônio Nóvoa (1954-). Ainda que aborde o cenário atual da educação em Portugal, sua obra serve de referência para pensar a realidade brasileira, sobretudo, pela ênfase aos contextos históricos e heranças materiais. Nóvoa defende visões polêmicas, frequentemente incômodas, mas que acompanha as preocupações das/os acadêmicas/os de sua área. Sua abordagem convida o/a leitora/leitor a pensar, refletir e questionar os paradigmas pedagógicos estabelecidos e vigentes. Desta forma, sua pesquisa contribui para o campo da educação ao propor uma perspectiva diferente e próxima à realidade social não mais e apenas das/os discentes senão que igualmente das/os professoras/es, aquelas/que assumem a função da educação.
O principal argumento de Nóvoa é: “queremos uma escola que faça tudo, arriscando-se a nada fazer bem, ou estamos dispostos a chamar toda a sociedade ao trabalho de educação e formação?” (NÓVOA, 2009, p. 64). O autor critica a acumulação de funções das instituições de ensino, que na prática oblitera a sua missão mais importante, qual seja, a de um ensino comprometido com a aprendizagem. Na contemporaneidade a escola carrega uma missão de educação globalizadora, reforçada pelo sistema administrativo de educação, que corrobora com as facetas de uma educação integral, uma vez que os estudantes permanecem cada vez mais tempo nas escolas. Porém, para o autor, essa missão só será cumprida com excelência se e quando houver a reformulação radical dos currículos escolares atuais. As instituições de ensino devem ser centradas na aprendizagem, nos processos de ensino-aprendizagem, mas sem levar em consideração as condições sociais e assistenciais da comunidade escolar não será possível obter um projeto pedagógico coerente, consistente, plenamente satisfatório. Assim, de acordo de Nóvoa, faz-se necessário que a sociedade se responsabilize, ou seja, assuma progressivamente as funções que foram assumidas pela escola e, em grande medida, pelas/os docentes.
O autor afirma que as instituições de ensino foram acumulando, ao longo dos tempos, tarefas que são de responsabilidade de outras instâncias sociais, tais como, a família, os centros de saúde, os conselhos tutelares, as comunidades locais, “transbordando” a escola e as/os educadores com atribuições amiúdes alheias ao seu ofício. O educador português sugere então, quase como uma solução ao problema da escola transbordante, o pensamento de que “à escola o que é da escola, [e] à sociedade o que é da sociedade” (NÓVOA, 2009, p. 89). Daí o título de sua obra, em que a/o docente torna-se o fundamento, na atualidade, no presente da/o estudante, de um futuro promissor, para si e para a sociedade.
Referências bibliográficas:
ALVES Bezerra, Maitê. “Professores: imagens do futuro presente”. Administração: Ensino e Pesquisa, vol. 15, núm. 2, abril-junho, 2014, pp. 415-423; https://www.redalyc.org/pdf/5335/533556759007.pdf
NÓVOA, Antônio. Professores: Imagens do futuro presente. Lisboa: EDUCA Instituto de Educação Universidade de Lisboa, 2009.