A poesia como cotidianidade – Por Eccio Casasanta Urrutia
Dançar perpetuamente
No amor,
eles arrebatam o instante, apressam seu destino,
beijos indeléveis que consomem o canto,
ilusões, esperanças.
São saudações eternas caídas na alma contente,
ventres que brilham sem dor
buscando com avidez as margens ardentes..,
Cinzas sem decomposição, lendas precisas.
Sublimes, preservam o tempo
encontradas no topo dos desejos, espirais vivas,
armas que não sacam, fossos sem medo..,
costas naufragadas, equilíbrio, equilíbrio de desejos em
pedaços de amor, precipício, vício de ter você.
São ilhas escorregadias, sorridentes, sem censuras,
vento da roseira carregando o espaço entre as nuvens,
elas giram com força, caminham nas profundezas,
florescem com o calor de um inverno sem bocas,
famintos por silêncios, corações transparentes com cílios de diamante
com cílios de diamantes, lençóis brancos com manchas de sede.
Superando as sombras, noites sem deserto, feitiços..,
absurdos que provocam risos, méis dançando entre pernas e desejos.
Bravura, momentos que assobiam,
olhos que devoram a loucura, a luz, a breve existência,
sentados sem descanso, fechaduras sem chaves,
cadeados, portas que empurram beijos…
Eles se flagelam, dançam, se oferecem com excesso,
vivem em rotinas que não dormem.
Eles são travesseiros sem cabeça, nós somos artistas apaixonados por tudo.
*
Mundo sem espelhos
Se você soubesse o que meu coração inventa
inventa para apertar suas mãos
você nunca iria com a lua cheia
para qualquer espaço, nem negaria lágrimas aos seus olhos
enquanto eu fumasse suas lágrimas.
Céu sem limites,
reflexos dentro e fora
do veludo de sua imagem
como baforadas que descansam.
Cisne de neve,
buquê de sonhos cavalgando
com aromas de ilusão,
magia nua que devora
pegadas sem chão ou tijolos.
Incansável, altivo, silencioso,
você encharca os moinhos de vento do horizonte,
acende minhas chamas em torno de seus beijos
nosso eco sereno submerge
no oceano sem praias,
cantando palavras que buscam minha sereia,
sem batimentos cardíacos minha miragem palpita
no colo que se banha
com raios de luar enamorados.
*
Ajoelhado
Ela e eu nos entendemos
como dois cisnes aquáticos
às vezes nos tornamos uma brisa
ela me acompanha por toda parte
ela chega aos meus olhos e os ilumina, fazendo-os se fecharem calorosamente.
Quando estamos nos braços um do outro
ele sussurra “beije-me”.
Deitado em minha alma
como prisioneira de meus pensamentos
Com as condenações do tempo, ela nunca permanece imóvel
Ela está sempre me amando
iluminando a dúvida de meus dedos
Sonhando com cupidos, sombras que não vejo.
Eu gostaria de saber o que bate em seus silêncios,
Às vezes temerosos,
tantas vezes pálido,
Parece a lua quando as estações se vão.
Apesar de tudo, sua vida espera por mim,
me escuta em cada imagem de seu espelho
nos condena ao abraço de meus lençóis
nós nos sentamos sozinhos.
Na penumbra da espera
ouvimos o gemido perpétuo de braços esquecidos
pálpebras silenciosas, o encontro tão esperado!
origem divina..
*
Serpentes, promessas e trapaças
O tremor começa a valsa pela Via Láctea urbana,
fluindo cegamente ao longo da margem de meus ossos,
sempre na borda embutida na fé cinzenta
que sacode os tambores efêmeros em direção ao bem-estar
que promete um horóscopo com moedas em um quadro
de zeros que habitam meus bolsos.
Eclipse benevolente que oferece o molde de seus dedos,
harpa que ressoa nos crepúsculos
oferece seu buquê flutuando nas nebulosas
com a harmonia do silêncio,
serenata que se compromete com a água
de doçura aos semblantes exaustos
e mordidos pelo peso de um apito.
A picada é sentida na pulsação das idéias
como um redemoinho torrencial que vislumbra
o engano selado com o verniz da mentira.
No limbo remoto de meus nervos, a intrusão estrangeira tensiona
a intrusão estrangeira como um terror noturno
que abriga a seiva dos punhos,
a dor da moral.
O engano é percebido com o mal empírico
a maldade empírica que leva os imigrantes a partir
com o veneno da rejeição.
Fadiga que articula a calma,
antídoto para o respeito, faz barulho
na multidão, o banquete é preparado
que convoca os bárbaros.
Forno do prazer que congela os calafrios do medo.
No umbigo hermético do meu travesseiro,
enterra o egoísmo careca
Que se agita corajosamente pelos corredores da dúvida.
Não há mais libélulas de mentiras,
na esfera de mármore o pensamento é gestado.
o pensamento é gestado, o colo infértil é vencido que
Poliniza a vertigem da raiva.
Rumores que se esgueiram em um cochilo,
víbora que dorme na espora profunda
que morde o carrasco em sua
fachada subterrânea e desliza
com seus dentes através do remorso fugidio
das bochechas arrebatadas pela enxurrada de lágrimas.
Gôndola que põe fim à delicadeza da traição.
A poesia é um elemento cotidiano, que nos permite refletir sobre o que acontece todos os dias. Descobrimos realidades ocultas em nossa imaginação, aprendendo a simbologia consciente em nossos diferentes estilos de vida. Somos leitores que transcendem cada ato de nossa existência. O cotidiano se concentra na conexão entre a poesia e o meio ambiente. Ela anda de mãos dadas com nossas origens, reivindicando a palavra em cada caminho. Há um senso de pertencimento, independentemente da estrutura da escrita.
“Nós somos nossa memória, somos aquele museu quimérico de formas inconstantes, aquele monte de espelhos quebrados”. ( Jorge Luis Borges).
Eccio Casasanta Urrutia (Venezuela, 1968). É um poeta ítalo-venezuelano, escritor de haicais, professor, fotógrafo, escritor de contos e romances e engenheiro agrônomo. Faz parte de antologias de livros de compilação de haicais, poemas e microcontos publicados na Espanha (Mundo escritura, Letras como espada, el muro del escritor, creatividad literaria) e na Colômbia (ediciones Komala). Selecionado com três poemas românticos em Milão, Itália, pela Aletti Editore, para fazer parte de uma antologia internacional. Publicou dois livros: Almas Inmigrantes e Las Orillas de las edades, (este último escrito em inglês e espanhol no mesmo livro), ambos à venda na Amazon. Com várias publicações em revistas digitais de prestígio na América Latina. É considerado um poeta romântico que expressa em sua poesia uma linguagem simbólica também ligada ao modernismo e ao vanguardismo, com tons populares moderados.