A Sós – Por Carlos Alberto de Melo Silva Mota
Carlos Alberto de Melo Silva Mota. Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí (2021). Graduado em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí (2017), onde atuou junto ao Programa de Educação Tutorial (PET) e ao Programa de Iniciação Científica Voluntária (ICV). Desenvolve estudos sobre as seguintes áreas: História e Imprensa, História e Memória, História Política e História Cultural.
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A Sós
Luiz Henrique Costa de Santana é um jovem escritor, estudante de Letras da Universidade Federal do Agreste Pernambucano e engajado em projetos de produção acadêmica. O livro A Sós é sua estreia no mundo da literatura, encarando logo de início uma árdua empreitada: discutir a imensidão contida no “estar sozinho”.
Sua obra é composta por diversas vozes que habitam um mesmo espaço, a mente de um sujeito inquieto. Poderíamos dizer que a trama nasce ambientada num teatro, todavia o palco dos acontecimentos prontamente se desloca para o interior da cabeça de um espectador que poderia ser qualquer um de nós.
O vício do protagonista em cigarro traz um aroma forte para obra, esse cheiro parece percorrer o ambiente do teatro que se esvaziou rapidamente após o abrir das cortinas. Ao todo, permaneceram nesse ambiente, apenas dez “gatos pingados”. Talvez aqueles com menor expectativa prévia pela encenação e que se deixaram penetrar pela experiência.
A ideia da solidão, apresentada na trama, é complexa pois inclui diferentes aspectos. Podemos transitar entre a beleza e a tristeza, o impossível e o inevitável. Essa complexidade traduz as diversas identidades que existem dentro de cada sujeito, podemos dizer que Luiz Henrique não é um ser uníssono, dentro do mesmo indivíduo habitam variadas vozes que por vezes discordam e concordam entre si.
A obra traz um aspecto indispensável acerca da solidão: a sua constância. Nesse sentido, podemos traçar um paralelo com o filósofo Zygmunt Bauman sobre o individualismo no mundo moderno que coabitamos:
“Outras pessoas podem dar conselho, sugerir os melhores passos, mas cabe ao indivíduo aceitar ou não o conselho e arcar com as consequências, sejam quais forem. Uma lição martelada com força particular e muito provavelmente absorvida é que, no caso de os lances darem errado, os indivíduos só terão a si mesmos para culpar. Os espectadores aprendem de antemão, bem antes de entrarem no campo de batalha, que a derrota, se acontecer, será causada por seus próprios erros, preguiça ou negligência.
Essa noção de liberdade individual é um tanto dicotômica: sem a crença num ideal coletivo cabe ao indivíduo, cada um por si, dar sentido à vida. Tarefa desanimadora quando não se pode contar com apoio algum. Levando Bauman a conclusão que as conquistas da vida devem ser tratadas em termo de apesar da e não graças à sociedade.”
Luiz Henrique nos prende em sua trama ao trazer para sua narrativa um aspecto inerente a vivência humana, onde somos indicados a conviver coletivamente ao passo que cada sujeito precisa carregar o peso da sua própria existência. Nesse sentido, nos surgem questões relacionadas a nossa subjetividade e ao quanto nos moldamos para nos adequarmos a convivência de sujeitos que sequer nos valorizam.
As respostas para os questionamentos surgidos nessa leitura devem ser buscadas a sós, como sugere o autor no título. A peça que ocorre ao fundo desse diálogo mental é de exibição única e o espectador ocupa simultaneamente o lugar de protagonista.