Cinco poemas de Anna Maria Kipfmüller
Anna Maria Kipfmüller, artista plástica, nasceu em Salvador/Bahia e reside em Berlim. Especialização em arte contemporânea em Paris.
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Espelhamento
São tantos os tempos
Qual deles sou eu
No esfacelamento
Desta vida
Todos voltam
Todos seguem
E no mudar dos tempos
A pergunta
Como me encontrar neles
O tempo do agora
Estranha os tempos de outrora
*
Dormir
Sair da vigília
Perambular no mistério
Vislumbrar
A fronteira – horizonte
Onde o céu
Onde o mar
Filamento
Passagem abstrata
De nós mesmos
*
Momento
No país das flores brancas
Onde tudo é nostálgico
As flores perdem seus contornos
E o branco vertiginoso
É a paisagem indefinida
Na dissolução de tudo
Mas tudo
É corpo imanente
Como penetrar na incógnita
Da sustentação do mundo
Branco eterno
De tudo o que é
*
Palavras
As palavras ressoam surdas
Desvesti-las dos seus códigos
Torná-las mar aberto
Chegar ao infinito
Utopia
Horizonte longínquo
No sol da manhã
*
Pedras
Da madeira brotam pedras
Milênios
O que brotamos
No tecer o fio da vida
Imponderável luz
Romarias
Caminhar incógnito
Sobre as faces múltiplas
Das pedras
Que sangram seivas seculares
Descrença
Como ser para poder saber
“Abstração que se materializa na natureza do que existe”
Aberta luz
George Cardoso
Consegue exprimir com delicadeza temas percucientes. “Não é doce para qualquer confeiteiro”. Cumprimentos aqui do Rio de janeiro.