Cinco poemas de Felipe Eduardo Lázaro Braga
Felipe Eduardo Lázaro Braga (1989) nasceu em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. Filósofo, cursa pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP) no programa de Sociologia. Escreve sobre arte urbana, política e matemática, e já publicou textos em revistas literárias (Pixé, SubVersa, Desenredos), portais de política (Justificando, Caos Filosófico, Revista Híbrida, Money Times, Público), antologias (OFF-Flip) e jornais impressos (O Estado de São Paulo). Em 2010, quando tinha 20 anos, foi a Brasília assistir à posse da primeira mulher presidente do Brasil.
Os poemas baixo integram o livro Testoste-TRIP (Kotter, 2023).
***
O PEIXE
Nadando no aquário de peixe dourado, cada olho voltado para um
norte diferente do mundo.
Na verdade, levitando no ar, como se fosse água a obrigação de ser
agradável,
e delicioso, sobretudo, olhar um peixe tão cheio de boas opiniões.
Em volta do aquário, cardumes de gente disputando espaço de olhar o
peixe,
entre rabos frenéticos de quem vai à frente.
O peixe conversa sobre tudo:
Dostoievsky; artilheiro do Milwaukee Bucks; invasão da Criméia;
casamento da irmã do Lulu Santos; Cabernet Sauvignon: muito, muito
versátil.
Mas tudo aquário demais numa conversa que o peixe conheça.
E sem que o peixe conheça as profundezas de qualquer outra coisa
que não sete minutos de profundidade, ei-los:
7 minutos de cortesia.
Que na escala de gente, é peixe nadando de um lado para o outro do
aquário, sem saber para onde olhar; sete minutos, e próximo.
Sacode o rabo e adorei te conhecer, beijos.
Oito minutos e a gente enrola o peixe no jornal de vender na feira:
bye, me liga!
Gente rica é engenharia de gente que deu certo por causa da geometria
equidistante de tudo o que há de bom. Peixe também:
é rico, porque todo mundo está em volta dele; todo mundo está em
volta dele, porque o peixe é rico; logo, todo mundo está em volta
dele porque todo mundo está em volta dele;
riqueza, no fim das contas, não passa de uma aglomeração concêntrica,
no centro da qual está o peixe;
Tão bonito, tão hipnótico, tão ornamental,
a transformar nosso esforço em bom gosto,
acumulando séculos e séculos de 7 minutos,
e oceano sem sair do aquário.
Todos, como eu na fila, adoram receber seus 7 minutos de peixe rica,
prazo de transformar qualquer assunto em virtuose de assunto agradável;
aliás, passam anos e anos na fila que dá pro peixe, sem saber muito
bem se a fila do lado de lá anda mais rápido;
mas anos e anos de fila que transformam qualquer um em perfeição
de sete minutos contados;
(isto é: biografia de quem anda na linha)
e o nada de quem nada, e nada, e nada no fim da fila do esforço, é o peixe;
e se alguém de trás apertar seu ombro e perguntar, “por que você está
na fila que dá pro peixe?”, você vai responder que está na fila que dá
pro peixe porque não é o último da fila.
*
1789 DUTY FREE
O Partido da Guilhotina exige três coisas:
a) não ser partido;
b) uma guilhotina;
c) um convite irrecusável:
“(…) tirar peso de cima dos ombros da Faria Lima,
é tirar peso de cima das costas do país”
Diretor de Política Monetária
Banco Central do Brasil
I. A Revolução Francesa precisou de menos de uma XP
[Investimentos para acontecer]
II. 2018 mostrou até onde a Faria Lima é capaz de ir: 1964,
[quiçá 1933]
III. Se a Faria Lima perdeu a cabeça, é preciso responder
[com elegância, à francesa]
*
WARHOL
today t amo
tomorrow tchau
testoste-trip, te app:
let’m top’té o talo
t’áfim?
*
BEIJO LIVRE III
sei tanta coisa sobre você
entrecortada por dois passos
e uma volta
(geometria de vários pontos
sem nome: etc e eu)
\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/\/ eu \/\/\/\/
para que o próprio andar te desvie
do sol e de ser abrupto,
dois olhares irresistíveis:
ambos meus,
e um para cada glúteo
torneado de andar a esmo
(oxigenada musculatura de voltar bem, é partir sempre)
*
POEMA SUJO
Saudade é o amor que fica no vão
de quem foi embora. Tesão é
homenagem vascular ao corpo de
quem merece. Vontade de vomitar,
sem a ânsia certa pra se desfazer, é
timidez de te ligar, matar seu ex
que há em mim. Tesão passa com
uma punheta. Amor tranquilo
como uma poça, no vão do piso
que não se limpa: vai ficando.