Cinco poemas de Franciellen Santos
Nascida no fim da década de 90 na cidade de Campos dos Goytacazes que fica no interior do estado do Rio de Janeiro, Franciellen Santos é uma jovem poeta lésbica negra que se dedica a escrever poemas em nome da representatividade lésbica preta. Pedagoga por formação, acredita que a educação é o caminho certo para transformar a sociedade em um lugar melhor, mais inclusivo e aberto à diversidade, principalmente para pessoas que como ela são LGBTQIAP+.
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FUGA
Eu fujo com todas as minhas forças
Desse maldito padrão
Que me impede de ser quem eu sou
Não me conformo com menos
Não quero viver numa prisão
Fujo para ser livre
Das garras da repressão
Fujo para lutar
Para amar, para mudar
O sistema que se prende
À sandices conservadoras
E faz de mim uma pecadora
Ou me torna uma doente
Ou me vê como delinquente
Só por ser quem sou
Uma mulher que ama outra mulher
E se orgulha do que é
Que bate no peito e ergue a voz
E que escreve estes versos
Como uma fuga desses malditos padrões.
*
UM ATO DE CORAGEM
O meu maior ato de coragem é ser quem eu sou…
Mulher
Negra
Lésbica
Por anos eu me ignorei enquanto mulher…
Achei que teria que seguir o padrão
Quando eu sempre odiei tudo isso.
Ter que usar vestido, enquanto adorava calça
Ter que usar sandálias, enquanto eu amava tênis.
Ter que usar bijuterias que me davam coceira.
Tudo para pertencer a um padrão…
O que falar sobre o tom da minha pele?
Sempre foi considerada a cor mais feia!
Já fui a única mulher negra numa sala de mais de 20 estudantes
E também já fui a única pessoa negra dentro de uma sala também.
E foi muito difícil, porque olhar para o lado e não se identificar com (quase) ninguém é muito ruim.
E o que falar sobre ser uma mulher lésbica?
Há quatro anos, eu estava tentando pela milésima vez me encaixar no padrão heterossexual.
Que bom que não deu certo!
Eu teria passado por uma experiência muito traumática.
Não que eu odeie homens, só não sinto atração por eles.
Assumir tudo isso foi libertador.
Assim como…
A coragem
De ser quem eu realmente sou e…
Me orgulhar disso.
*
LÉSBICA
Quem julga a palavra
Tão pequena, mas…
Com um peso enorme
De um mundo gigante
Que devora mas…
Não engole!
Ver mulheres aos beijos
Andando de mãos dadas
Saindo dos seus armários
Mostrando esse amor
Ao mundo inteiro
Um movimento sutil…
Afeta a tantas mulheres
Encoraja a todas aquelas
Que por medo se escondem
Em armários escuros
Em padrões obscuros
Quem teme a palavra lésbica?
Quem se excita seguindo padrões?
É a pessoa que não se move
E reproduz os estereótipos
É quem foge da luta
E prefere deixar tudo como está
Mas aqui não é mais esse lugar!
Nada será mais como era antes
Agora há uma força gigante
De mulheres que se orgulham
De serem quem são
No amor e na revolução.
Lésbicas!
*
ALÉM DE LÉSBICA, ESCRITORA
Não escolhi ser quem sou
Minha única escolha foi fazer a diferença
E deixar minha marca no mundo
Quero que saibam
Quero que digam
E que nunca se esqueçam
Que não sou um erro
Não vim de uma fraquejada
Nem fui amaldiçoada
Não foi por falta de opção
Não apertei nenhum botão
Mas quis deixar registrado
Em cada texto meu publicado
Que não importa quanto tempo passe
Nem quanto o mundo gire
Se for em prosa ou poesia
Na tristeza ou na alegria
Entre o medo e a ousadia
Me orgulho a cada dia
De ser uma mulher
Que ama outra mulher
Que além de lésbica, escritora
E escreve como quem não quer nada
Mas diz tudo!
Só pra ter o doce sabor de inspirar outras
A serem quem são
E causar uma revolução
Ainda que em silêncio
De dentro de um quarto
Mantendo a proposta viva
E aos poucos construindo
Um glorioso legado
Não por mim
Mas por nós
Que lutamos
Que escrevemos
Que cantamos
Que atuamos
Que fazemos arte
E que nos orgulhamos de ser quem somos
Escrever sobre o que sou
É o meu ato de resistência
É um momento de coragem
Faz parte do meu show
Escrever até que palavras me faltem.
*
DESEJO
Só quero poder viver em paz
Amar sem temer
Andar por aí de mãos dadas
Com quem meu coração escolher
Quero bater no peito!
E gritar bem alto
Para que todos escutem
O que tenho a dizer
Que tenho orgulho de ser
Uma mulher que ama outra mulher
E que isso não é doença
Nem mesmo um crime
Muito menos uma blasfêmia
É só o que sou!
E não posso, nem quero mudar
Mas se pudesse escolher
Seria por nunca mais sofrer
Pelo meu jeito de ser
E pela minha forma de amar.
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