Cinco poemas de Giovanna Soalheiro Pinheiro
Giovanna Soalheiro Pinheiro nasceu em Belo Horizonte (1981), cidade onde reside atualmente. formada em Letras (UFMG), Mestre e Doutora em Letras: Estudos Literários (UFMG). É professora, poeta, crítica literária e pesquisadora. Realiza pós-doutorado junto ao Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários da UFMG, com enfoque na tradução e na criação poética. Nesse momento, está finalizando o projeto do seu livro de poesias.
***
o olhar lá fora, sombra:
com ela, caminhei no assombro
no soçobro de uma excitação
(eu
sem lucidez eu a seguia:
nas paragens
na aragem
na extração da razoável viagem
& ela)
as vias avistavam o que eu via:
o corpo, o breu, olhos de sonho
olhando abertos a noite estranha
(na via
o que havia recolho:
outros olhos, outro
escolho
vazia)
*
A sentido em dobra
) O significante está ali No tanger volitivo de línguas reais Não é este o lugar aqui O que não estar transferir aos mapas O que estar cartografar Desviar a condição Da palavra tomada curvar o seu dorso Destinar o suposto à língua do outro Solapar o ponto de sua pontualidade despótica Curvar a origem Dobrar Vagalumear A função-real às vezes se apresenta inócua Qual é o sentido no imprevisto das coisas? Passagens & paradigmas & sintagmas & outras miragens O som do signo Refundar a escuta no contraplano da cena Subsumir o olhar (
*
Ao redor
dedos, ostras, crostas
a traduzir acenos cerrados de mãos
um silêncio ruidoso
como navegante em inquietante viagem
o som também se transporta:
paisagens sonoras
há então outra pulsão
não sentido
não imagem
não palavra
onomatopeias, talvez
O estar abstrato em tudo
o inominável
o intocável
Onda longitudinal
deslocamento
vento vento
Som assobio passo
compasso de um incerto pássaro
*
Ensaio sobre aparição
Movem-se tons — aparição
preto
vermelho
branco
entre ângulos e a espessura fina de uma pele fina
Sombra, sobrevivência, som
concha, facho, eixo
imaginário laminar
de olhos & óleos & mãos
Em nude, a face se imobiliza na tela:
imanência das curvas, permanência das formas
a trombeta que rasura a fuga
O sonho externa-se ao sono, o sopro:
o olhar meditativo do outro à frente imagina
(qual urgência para uma espécie?)
Figurar o gesto de um rosto: outro modo de usar a língua
pesado demais, severo demais, atento demais
*
(1938)
Um menino vestido de branco montando o cavalo.
Voltei, atravessei a noite, sentei-me diante dele. Havia
uma porta. Um homem ao chão. As cordas na mão. Seja
lá onde for, uma aldeia branca no fundo da lua habitava
o meu sonho. Passagens se amontoavam. Como de
costume, um olhar se lançava ali: via gestos, dispersas
luzes, o fio. O branco horizontal e a figura escura. Um
real camaleão curvado ao frio. [O branco O branco O
branco]. Todos dormiam: o menino, o cavalo, o homem.
No outro canto da rua porém o sonho me acendia.