Cinco poemas de Gonesa Gonçalves
Gonesa Gonçalves é autora do livro Cata- Ventos (2020). Licenciada em letras pela Universidade Federal da Bahia, estudante de arquivologia, bolsista projetos especiais e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Rasuras (na mesma instituição). Residente na Bienal de Buenos Aires- Argentina(2019). Coordenadora do Projeto Literário Enegrescência. Possui publicações na Revista Organismo n° 5 e La Joven Parca. Nos livros: O diferencial da Favela (vol I e II) e Poéticas Periféricas: novas vozes da poesia soteropolitana.
Participou e foi umas das organizadoras dos livros Coletânea Literária Enegrescência (2016) e Vozes de Reexistência Juvenis: Presente! (2019).
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SINFONIAS
Para Ivis Lois
O último eco da sua voz alegre
abre julho
denúncia minha lua em câncer
e faz de tudo outono
por aqui
À minha memória
a gravação do seu sorriso
replay aos meus ouvidos
a onda sonora mais bela
o último acorde
toca sua doce sinfonia
sístole e diástole
dedilhando sua alegria
cordas vibrantes
coração faz festa
na trilha sonora da sua partida
me finjo de pedra
mas sou pobre poeta
minha letra hoje
se esvai em lágrima
às vezes sorriso
e eu sou do cais
como um pombo perdido
observando o seu belo navegar eterno
*
LÁPIDE
Caminhamos pela rua
em meio a uma horda de loucos
sem máscara
sem ar
sem sentido
Caminhamos pela rua
e hoje não tem samba
não tem pandeiro
e nem a beca de bamba
vamos encobertos por uma fantasia
de sorriso feliz
Caminhamos pela rua
mãos ao alto!!!
drink pronto
copo americano
puro malte
corpo perecível
próximos da validade
obsolência programada
gravada na lápide
*
CARPINTARIA
Cupins de coturno
mastigam a carne
de úteros pretos
Há mais de 500 anos
trabalham incessantemente
produzindo caixões nessa carpintaria
*
CARTA PÓSTUMA
Passos arrastados
atravessam a porta
Toda vez que olho
e você não entra
Sobre à mesa de trabalho
lápis
canetas
e cadernos antigos
e sua letra é tão viva
ferramentas de saudade
Como um trem desgovernado
corre a saudade em meu peito
com os vagões vazios
carregados da sua ausência
Hoje eu escuto uma música
bebo um vinho
abro a porta
espero
pego os chinelos
me sento na rua silenciosa
mas sua ausência estampada na lápide
me avisa
que você não volta
*
A FESTA
Para Danilo Cruz
Meia noite
quando a rua dorme
e a escuridão desliga o mundo
nos olhamos em silêncio,
mergulhamos um no outro
e a sua boca entre minhas coxas
embalam sons do nosso infinito
Marcelino Rodrigues Cutrim Netto
BOns textos
Alai Diniz
Gonesa, seus poemas ATRAVESSAm muros sem embalar
E ABALANDO CRESCEm pela MARGEM
Desse seu olhar.
Gratidão.