Cinco poemas de Isabel Furini
Isabel Furini é escritora, poeta e educadora. Autora de 35 livros, entre eles, Os Corvos de Van Gogh (poemas). É criadora do Projeto Poetizar o Mundo; recebeu Comenda Ordem de Figueiró, no Rio de Janeiro; foi nomeada Embaixadora da Palavra pela Fundação César Egido Serrano (Espanha, 2017); Participou de Antologias poéticas em Portugal, Argentina e Chile; Palestrou sobre a arte de escrever em diversas Férias do Livro. Seus poemas foram premiados no Brasil, Espanha e Portugal. Realizou um Recital de Poesia na Biblioteca Pública de Burlingame, Califórnia, USA; em Outubro 2021, recebeu o Prêmio TV Channel Network do jornalista Alexandre Abdo.
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O jardim da amizade
é preciso ser como um sentinela
e ter cautela
porque
às vezes, até em um jardim de flores
as cobras serpenteiam
*
Poemas&gárgulas
Toda linguagem tem seus abismos
o grito que não quebra os vidros das janelas
(para que entre o vento empurrando novas ideias)
é tóxico
o poema que não causa vertigem
é terra desertificada
a peça de teatro que não arrepia a pele
é estrela de cristal (sem força sideral)
um poema feito de borboletas de papel
pode ser amado
mas quem quiser criar poemas&gárgulas
precisará vomitar palavras tóxicas
e fincar as garras (profundamente)
no coração das sombras.
*
Respiração poética
O poeta só pretende
desenhar um laço
no braço de Erato
para unir os estilhaços alfabéticos
das palavras e das trevas
porque a Poesia é luz e escuridão
e cultivar a sensação do tempo impermanente
aconchegando-se
entre as perigosas pinças do escorpião
enquanto respira
perversos
versos
de amor
*
Os meus quereres
quero esquadrinhar o passado
contemplar as rochas construídas
com símbolos e metáforas
procurar o tesouro sonhado
a verdade que pode renovar a vida
a jadeíte
submetida a altas pressões
e escondida
nas profundezas da mente subconsciente.
*
Postura
olhe o céu
desdenhe as críticas
veja os seus inimigos
como o sapo vê os mosquitos
e sem hesitação
com olhar indiferente
abra as suas asas e voe rumo ao infinito.