Cinco poemas de Ivy Menon
Ivy Menon é poeta, advogada, pós-graduada em Filosofia e Teoria do Direito, Bacharel em Teologia. Nasceu em Cornélio Procópio, o Norte Velho do Paraná. Boia-fria até os 20 anos, Ivy, desde pequena, amava os livros e os bancos da biblioteca. Depois de sair da roça, trabalhou em O Diário do Norte do Paraná, em Maringá, onde deu inicio em uma carreira de jornalista autoditada. Atuou em jornais e assessorias de comunicação, tendo sido, inclusive, Chefe da Seção de Impressa do Tribunal Regional do Trabalho, em Cuiabá, e do Cartório da Justiça do Trabalho, de 2010 a 2013, ano em que se aposentou. Hoje, mora numa chácara, no meio das araucárias, na zona rural de Rio Negro, região metropolitana de Curitiba. Em 4 de dezembro de 2006, venceu o I Concurso Carioca de poesia promovido pela Associação Brasileira Cultural de Apoio à Cidadania (Abraci), que contou, entre as parcerias, com a Academia Brasileira de Letras (ABL), Como prêmio, teve publicado seu primeiro – e único – livro de poesia, Flores Amarelas. Ocupou a Cadeira n. 31 da Academia de Letras de Maringá. Foi uma das finalistas do Prêmio OFF FLIP 2018, na categoria Poesia.
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horas mortas
entardeço
observo os marcos fincados
territórios particulares
duzentos e cinquenta metros para cada lado
e meia dúzia de altares
descrentes de mim
mapeio o quintal de casa
dois sonhos espantados
ainda tremem as asas perto das cercas
o fogo teima pintar de cinza as brasas
a flauta doce pendurada na parede da sala
uma bandeja de frutas da estação
morre numa tela desfocada
quase não ouço passos
precisa
a noite marcou hora para me habitar
*
in_adequação
infelicidade a minha
nasci poeta
não há muito o que dizer à rua
o dia se vende
e de mercado nada entendo
pouco sei de sangue
suor
e lágrimas derramados no campo
não comercializo Poesia
ocupo-me de desimportâncias
gastei-me noutra dimensão
fugi da linha de combate
desgostam-me enfrentamentos
meus dedos uivam sílabas
eu temo mediocridades
luas novas
idade das trevas
e fogueiras bruxuleantes
a incinerar-me as letras
teimo-me cobrir de cores abstratas
riscar-me de giz
e as margens não comportam in_adequações
restam-me ruas desertas e versos inacabados
*
teoria
a realidade me desconstrói
nasci sonho
eu me enrolo em nuvens de ambiguidade
e navego sóis
caos estelares
física quântica
girassóis
ecos
in_acabada teoria
sou letras
suposições
balanço desgovernada
no espaço do não dito
não tenho tino
:
o siso em mim jamais rebentou
louca de desatinos
quem saberá o destino que me espera?
talvez um dia
eu seja apenas versos na prateleira de um mezanino
*
misoginia
nos dias em que ele chovia
tempestades de palavras
sobre ela caíam
enxurradas de amargura precipitavam-lhe
secavam-lhe os dias
ateavam-lhe fogo
confiara a ele suas asas
a liberdade presa em seu peito queimava
sabia a fragrância que se alastrava do incensário
seus olhos viam-se pelos olhos dele
o estanho nela brotou
tornou-lhe figueira estéril
envelheceu
a ansiar lua cheia
versos afáveis que lhe oferecessem flores
*
versos em braile
na escuridão que se instala
aquela em que não há fresta
réstia de luz alguma
aprendi a localizar o sofá
a ferida aberta
e a mesa de cabeceira
o medo de diluir-me
paredes
portas que se abrem
obstáculos
caminhos tortos
na escuridão do meio-dia
eu vi
o estampido da bala perdida
o perfume da roupa da filha
a podridão do esgoto na esquina
o gosto de manjericão na salada
a fome de pão do menino
a maciez das mãos do meu neto
e senti a tristeza que range
na sola dos meus sapatos
da escuridão que se propala
aquela que ninguém ousa
ignóbil
plena de estupidez
aprendi a me esconder
nos versos que meus dedos cavam
desvario
para os que nada sabem
escrita em braile
só os cegos leem
Ivy MENON
Ruído e manifesto tem sido, para mim, grata surpresa! Estou aprendendo, além DO prazer de conhecer e ler poetas e eScritores maravilhosos!!!! Agora, a honra de estar entre eles. Grata!
ALBERTO GOMES DE OLIVEIRA
Yvi, poemas fabulosos. vou dizer mais o que?