Cinco poemas de Ornella Rodrigues
Ornella Rodrigues tem 42 anos, nascida e criada em Santos\SP. Escritora, poeta, fotógrafa e arte-educadora, seu arte dialoga entre palavras e imagens, versando sobre amor, fé e ancestralidade. Possui dois livros publicados: “Como domar um coração selvagem” publicado em 2018 pela editora Fractal, e “Vênus em Touro”, lançando em abril de 2021 pela editora Desconcertos.
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tem poeta
que se inspira
num dia de sol na atual conjuntura política social
numa pedra
numa folha
eu não
minha poesia
sai do coração
sangrando
batendo
acelerado
tudo que escrevo é vivo
intenso
nada é abstrato
*
não tenho
filtro
e nem
critério
quem vier
de coração
limpo
e de corpo
aberto
eu caio
como chuva
temporal
me alastro
feito pólvora
sou feita
daquilo
que transborda arde
e deságua
são dois de Ogum
numa luta,
contradição dois
guerreiros de paz
que brigam pela união
um se esconde na mata
outro na queda
das águas e quando o
desejo alastra fogo
incendeia
cegam-se as espadas
são dois de Ogum e a
paixão mas a guerra nunca
acaba quem cede o coração?
vai baixar a guarda?
são dois de Ogum
amor, campo de batalha
*
lembro de todos
os cortes
do sangue escorrendo
ardor em meu peito
não escondo minhas
cicatrizes afinal
para ter um coração selvagem é preciso lidar
com todas as marcas
ter orgulho
de apresentá-las,
assim em carne viva
buscava
uma forma
de sobreviver
num mundo
que não lhe cabia se cortou
se moldou
e mesmo assim
não havia espaço para tanta imensidão então
renasceu
se transformou
em rio
seu corpo
alma
agora segue
como água
corrente
desaguando
em busca
do mar
*
me apaixono
mesmo!
fico de quatro
de lado
até dou
vexame acho
um tédio
viver sem paixão é como
um vício
um vírus
não quero ser
nem estar
imune
e lá vou eu, de
novo porque sempre
me fodo
mas também
sempre
gozo
no final
você
bebe
cheira
fuma
incansavelmente
mas
tem
medo
de
se
apaixonar
*
não me preocupa
amor
quem passa
pelo seu corpo
pede ou recebe
seus beijos
que você dá
por fome ou paixão
me importa de
verdade amor
se não é minha
lembrança
que vagueia
na sua retina
se não moro
nos seus sonhos
se sou quem
habita e faz bater
seu coração
cada
estocada
na
minha
boceta
eram
todas
no
meu
coração
não acreditava
na astrologia
em deus
nem tinha
religião mas
quando viu o
escorpião
tatuado na minha
virilha ajoelhou e
orou até que eu
chegasse no céu
Letícia Franco
Parabéns!